segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O ovo da serpente


O facismo é fascinante. Deixa a gente ignorante
fascinada. E tão fácil ir adiante.
E esquecer que a coisa toda está errada.

Engenheiros do Hawaii, “Toda Forma de Poder”


Por Sérgio Siscaro

O grande trunfo do filme A Onda/ Die Welle (2008), dirigido por Dennis Gansel, é o de mostrar de forma didática e clara que a tentação pelo totalitarismo está sempre logo ali na esquina. Seja para o pretenso líder que quer ocupar um posto de autoridade e ser adorado (e obedecido) pelas massas, seja para quem não se encaixa na sociedade e gravite para um “movimento” que dê um significado maior à sua vida, o facismo infelizmente não morreu – e sua volta está mais ligada ao desencanto das pessoas do que aos ataques de ridículos neonazis.

Baseado em fatos reais ocorridos nos EUA na década de 60, o filme funciona porque não exagera; apresenta os personagens e seus problemas, e um professor com um dilema: como provar para seus alunos que é possível surgir um regime totalitário no início do século 21, aos moldes dos facismos do entreguerras, em um país tão moderno quanto a Alemanha (e que ainda tem a eterna responsabilidade histórica pelos crimes do 3º Reich)? Ora, pela prática. Mas a experiência acaba sendo muito mais bem-sucedida do que ele poderia esperar.

O elenco, formado na maior parte por jovens, também não deixa a peteca cair (o filme contou inclusive com uma atriz brasileira, Cristina do Rego – desconhecida por aqui, mas que já tem algumas participações lá fora –, no papel da problemática Lisa). E o professor Weger, vivido por Jürgen Vogel – experiente em várias produções alemãs, como Adeus, Lenin! (2003) – também convence.

Um grande filme, que na época de seu lançamento atraiu alguma atenção, e só. Merece ser revisto. Para evitar que a história se repita. De novo.

Ficha técnica

Título original:
Die Welle
País: Alemanha
Ano: 2008
Duração: 107 minutos
Direção: Dennis Gansel
Elenco: Jürgen Vogel (professor Rainer Wenger), Frederick Lau (Tim Stoltefuss), Max Riemelt (Marco), Jennifer Ulrich (Karo), Christiane Paul (Anke Wenger), Jacob Matschenz (Dennis), Cristina do Rego (Lisa).


domingo, 20 de novembro de 2011

A Pele que Habito: ser ou não ser...



Por Ana Lucia Venerando

Quando soube que Pedro Almodóvar voltaria a filmar com Antonio Banderas, fiquei feliz e ansiosa. Adoro quando os dois trabalham juntos. É uma boa oportunidade para Banderas voltar às suas raízes. E o cineasta passa a ter na mãos um ótimo ator e sai um pouco da sua fórmula de ter o universo feminino como o centro de suas tramas.

Não que desta vez as mulheres foram deixadas de lado. Muito pelo contrário. Em A pele que habito, tudo que o Dr.Robert Ledgard (Banderas) deseja e faz gira em torno de fatos ocorridos envolvendo as mulheres mais importantes de sua vida – sua esposa (queimada em um acidente de carro) e sua filha (que se suicida). Marisa Paredes também está lá como a governanta Marília e que guarda um importante segredo.

O filme demora um pouco para cativar. O novelo de lã logo começa a ficar mais cheio de nós e difícil de “desatar”. Aqui vale um recado: prestem atenção em dois momentos. Marisa Paredes faz referência a outras obras de Almodóvar: em um deles é durante uma conversa com o filho quando ela pede: “desata-me”. O outro é quando ela culpa suas “entranhas” por tudo que acontece.

Atenção. Spoilers:





O Dr. Robert Ledgard é um renomado cirurgião plástico em busca não apenas de vingança mas também em recriar sua mulher. Ele está completamente obcecado e usa todos os seus conhecimentos para criar a pele perfeita e resistente a queimaduras.

Logo ele consegue a pessoa perfeita para os seus planos – o jovem Vincent – que passa a ser o instrumento de suas experiências. Também é o alvo de sua ira – já que o rapaz teria tentado violentar a sua filha.Encarcerado na mansão La Cigarral, Vincent também passa pela cirurgia de mudança de sexo. E fica isolado durante anos para que o médico-monstro possa atingir o seu objetivo.

Apesar de Banderas ser o protagonista do filme, é no personagem de Vincent/Vera (Jan Cornet/Elena Anaya) que estão as grandes perturbações do filme. Como em um enredo do escritor Philip K. Dick, o personagem de Vincent deixa a seguinte dúvida: será que a pele que habito é o que me faz ou será que é a minha cabeça que comanda o meu corpo? A história também lembra um pouco Frankenstein. Criador e criatura - ambos com uma ligação emocional doentia e de vingança.

O filme vale ser visto. Agora fica a curiosidade sobre o livro que o inspirou: Mygale, de Thierry Jonquet.


Ficha técnica
Nome original: La Piel que Habito
Diretor: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Blanca Suárez, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Bárbara Lennie, Susi Sánchez
Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado no livro de Thierry Jonquet
Duração: 133 min.
Ano: 2011


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles



Por Ana Lucia Venerando

Explosão atrás de explosão e sem nenhuma história. Se você está a fim de gastar seu tempo com um filme assim, assista Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles. E com uma receita tão comum em Hollywood – como os norte-americanos são altruístas e salvadores do planeta.

Desta vez, os marines têm pela frente um inimigo desconhecido que está invadindo e acabando com várias cidades ao redor do mundo. Uma delas é Los Angeles. Os jovens combatentes são orientados pelo sargento-assistente Nantz, interpretado pelo ótimo ator Aaron Eckhart (o Duas-Caras de Batman – o Cavaleiro das Trevas). Neste filme, Eckhart faz o típico militar que está louco para se aposentar mas que antes tem pela frente o último desafio de sua carreira.

O início do filme é uma sequência interminável de apresentações dos personagens. Tempo perdido já que nenhuma de suas histórias têm grande relevância para a trama, que é completamente nula.

A missão do grupo é a de resgatar alguns civis presos em uma delegacia de polícia, localizada em uma área prestes a ser bombardeada pelas forças militares norte-americanas na tentativa de eliminar o grande inimigo – alienígenas em busca de água (muito original!!). Os seres lembram vagamente, muito vagamente, os cilônios da série Battlestar Galactica.

Os marines tentam cumprir sua missão, porém ficam cada vez mais encurralados. Muitos morrem heroicamente.Claro que, aqueles que sobraram, saem vitoriosos e colocarão a nave-mãe para correr ou, melhor, voar.

Como já falei no início do texto, e me dando o direito de ser tão redundante quanto ao filme, a história é uma grande exaltação aos fuzileiros e um exagero patriótico.

Ficha Técnica:
Título original: Battle: Los Angeles
Ano: 2011
Direção: Jonathan Liebesman
Duração: 116 minutos
Elenco: Aaron Eckhart, Michelle Rodrigues, Ramón Rodrígues, Bridget Moynahan Ne-yo, Michael Peña


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Detetive do sobrenatural


Ei, que foi?

Por Sérgio Siscaro

John Constantine e Dylan Dog são dois personagens dos quadrinhos que têm vários pontos em comum. Ambos têm um jeitão cool, lidam com o sobrenatural, tiveram suas revistas lançadas inicialmente em 1986 (embora Constantine tenha aparecido anteriormente em histórias do Monstro do Pântano), usam “uniformes informais” (o sobretudo de Constantine e a camisa vermelha com blazer preto de Dylan) e tiveram seus traços inspirados por pessoas reais (o cantor Sting no primeiro caso, e o ator Ruppert Everett no segundo). Mas a semelhança que interessa agora é a de que ambos foram adaptados ao cinema em produções razoáveis, a la Sessão da Tarde, mas que desprezaram completamente as características originais dos personagens.

Deixando o filme Constantine (feito em 2005, com direção de Francis Lawrence e a participação do inexpressivo Keanu Reeves no papel principal) para um outro dia, vamos falar de Dylan Dog, que teve o filme Dylan Dog: Criaturas da Noite (Dylan Dog: Dead of the Night) lançada no ano passado, com direção de Kevin Munroe (de As Tartarugas Ninjas – O Retorno/TMNT, de 2007).

A premissa inicial é interessante (apesar de ser um clichezão homérico). Dylan, vivido pelo ator Brandon Routh (mais conhecido por Superman: O Retorno/Superman Returns, aquela bomba de 2006, e pelo seriado Chuck), se afastou da nevoenta Londres, perdeu seu parceiro Groucho e seu amor Cassandra, e virou um detetive de casos de infidelidade conjungal em New Orleans. O desenrolar dos acontecimentos vai, claro, trazê-lo de volta ao mundo sobrenatural – com direito a um novo parceiro, Marcus (vivido por Sam Huntington, que participa da versão norte-americana do seriado de terror Being Human), um zumbi relutante.


Discussão à meia-noite no cemitério

O filme busca unir o terror soft de Hollywood a um humor pré-adolescente – um recuo com relação aos quadrinhos, nos quais as gargalhadas são garantidas, principalmente, pelo aloucado assistente Grouxo. A trama do filme também é beeem esquemática; dá para adivinhar sem problemas o que vai acontecer. Mas distrai – é mesmo uma Sessão da Tarde, em suma.

Mas tem seus momentos. Referências ao criador do personagem nos quadrinhos, Tiziano Sclavi; algumas nojeiras (bem soft, ninguém vai vomitar) que são um distante eco dos bons e velhos filmes de zumbis etc do cinema italiano dos anos 70/80; e, apesar dos desvios do original, uma certa fidelidade em detalhes (como o indefectível “arremesso de revólver”, antes praticado por Groucho, agora pelo novo assistente zumbi). E algumas piadinhas interessantes, como o grupo de autoajuda dos mortos-vivos.




O original

Vale lembrar que o filme que melhor traduziu o clima de Dylan Dog para o cinema foi a produção europeia Dellamorte Dellamore (1994). Dirigido por Michele Soavi (dos clássicos ) e com participação de Sclavi no argumento, o filme traz a atmosfera de absurdo e de comédia dos quadrinhos originais – e, apesar da diferença nas carreiras profissionais dos protagonistas (enquanto Dylan é detetive, Dellamore é coveiro), pode ser considerada uma adaptação mais fiel do que Dylan Dog: Criaturas da Noite.

Ficha técnica

Título original: Dylan Dog: Dead of the Night
Ano: 2010
Direção: Kevin Munroe
Elenco: Brandon Routh (Dylan Dog), Anita Briem (Elizabeth), Sam Huntington (Marcus), Taye Diggs (Vargas), Kurt Angle (Wolfgang), Peter Stormare (Gabriel).


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Girassóis da Rússia





Por Ana Lucia Venerando

Minha flor preferida é o girassol. E um dos meus clássicos preferido é Girassóis da Rússia (1970), dirigido pelo italiano Vittorio de Sica. Não que o filme tenha uma grande história. Dramalhão de um chororô só, considerado um dos melhores romances do cimena. Penso que as protagonistas das novelas italianas da Globo fizeram laboratório assistindo Girassóis.
Mas vale por curiosidade de cinéfilo. E sempre é um prazer ver a linda Sophia Loren atuando. Também é válido pela linda fotografia do filme, principalmente quando a atriz vaga por um gigante campo florido de girassóis.
O filme trata do sofrimento das “viúvas” da Segunda Guerra Mundial. Traça um paralelo entre a deterioração das cidades atingidas pelo conflito e a vida das pessoas.
O começo do filme mostra a felicidade do jovem casal Giovanna (Sophia Loren) e Antonio, interpretado por um canastrão Marcelo Mastroianni. Mas a lua de mel logo é interrompida. Antonio vai para o front combater a tropa russa.

Linda hoje e sempre

A guerra acaba. Anos se passam. Giovanna, já com o rosto marcado de rugas de sofrimento, espera dia após dia a chegada do amado. Cada batida na porta é uma decepção. Cansada de esperar, a “mulher de Atenas” resolver ir à luta e viaja dias a fio da Itália até à Rússia para obter alguma informação sobre o paradeiro do marido. Será que ele está vivo? Será que ele foi morto em combate?
Anda por diversos vilarejos carregando nas mãos uma foto de Antonio. Até que encontra uma senhora que indica a casa onde o homem estaria vivendo. Claro que se depara com uma linda jovem russa com quem o maridão formou uma família, com direto a filha e tudo mais.
O silêncio entre as duas é total. Basta a troca de olhares para que as mulheres entendam o que está acontecendo. A esposa russa leva Giovanna até à estação de trem onde Antonio desembarcará após um dia de trabalho. Ao descer do trem, sua atual esposa aponta para Giovanna. Antonio a reconhece e caminha até ela. Mas morrendo de ódio e vergonha, a italiana pula no trem que já está de saída, nem lembrando da pequena valise que carregava com alguns pertences. Aí eu acho que poucos perceberam isso. Como é que alguém saí da então União Soviética para a Itália de mãos vazias – sem nenhum documento? Furo.
Giovanna volta para sua casa e para seu trabalho em uma fábrica de manequins. Aí está a cena mais descontraída da película: Sophia Loren aparece lixando o bumbum de um manequim - na época deve ter tirado gargalhadas das pessoas nas salas de cinema.
Um tempo se passa e Antonio decide procurar Giovanna. Ele quer retomar sua vida com a primeira esposa. Claro que o final não seria feliz. Ela decide manter sua vida – já que agora formou uma nova família. E mais choro – não há lenço que seque tantas lágrimas.
Título original: I Girasolo
Gênero: Romance
Ano da lançamento: 1970
Tempo de Duração: 1h01 min
Direção: Vittorio De Sica
Música: Henry Mancini
Elenco:
Shophia Loren como Giovanna
Marcelo Mastroianni como Antonio
Lyudmila Savelyeva como Mascia

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Super 8 é 10


Luz, Câmera...

Por Ana Lucia Venerando

Adorei Super 8. Assisti-lo foi como entrar em uma máquina do tempo e ver um bom e velho filme de ficção com extraterrestres, dramas familiares e uma gangue de adolescentes, que no início pensam em apenas se divertir. Mas que logo se veem no meio de uma conspiração – tipo governo nega conhecimento. Situação tão bem explorada pelo filme Contatos Imediatos de 3º Grau, de Steven Spielberg, produtor de Super 8. J.J. Abrams, um dos criadores das séries Lost e Fringe, dirige a obra.
A salada de ideias de Spielberg e Abrams resultou em um filme que mistura Contatos.., ET. O Extraterrestre, Goonies, e Lost . Quem não se lembra do monstro da fumaça que sumia com as pessoas na enigmática ilha? Alien – o 8º Passageiro também vem à lembrança, quando finalmente a criatura de Super 8 aparece. Tanto pelas suas características como pela forma de manter suas vítimas indefesas – como se estivessem sendo conservadas em casulos.
Joe (Joel Courtney) é um adolescente que acabou de perder a mãe em um trágico acidente de trabalho e vive com o pai. Um policial sem graça e sem o mínimo jeito para lidar com os próprios sentimentos e muito menos os do seu filho. O garoto encontra conforto com seus amigos. Envolvidos em filmar um super 8 de zumbis, acabam sendo testemunhas de um estranho acidente de trem (a cena é fantástica). E é nessa confusão que Joe se apaixona por Alice, interpretação fantástica de Elle Fanning - irmã mais nova de Dakota Fanning.

I want to believe
A partir daí, muitos mistérios começam a acontecer na cidade – pessoas, aparelhos eletrodomésticos e motores de carro desaparecem. Sem falar na fuga em massa dos cachorros para cidades distantes. Tudo piora quando o exército tenta recuperar a tão enigmática carga que o trem transportava. E, claro, que os milicos resolvem apagar os vestígios do acidente com mão de ferro.
A história se passa lá pelo fim dos anos 70 e a trilha sonora é ótima com direito a Easy (The Commodores) e Heart of Glass (Blondie). Atenção para quando o filme terminar e os letreiros começarem a subir. Aí sim você conhecerá o que é um verdadeiro filme de zumbi, com direito à homenagem a Alfred Hitchcock.
Mas, na verdade, o grande homenageado de Super 8 é o cinema. Tudo nele gira em torno da sétima arte. Toda a trama é conduzida por filmes dentro do filme. Valor de produção.
Ficha Técnica
Nome original: Super 8
Direção: J. J. Abrams
Gênero: Suspense
Duração: 1h52 min
Estreia: 2011
Elenco:
Kyle Chandler como Delegado Jackson Lamb

Joel Courtney como Joe Lamb
Elle Fanning como Alice Dainard
Noah Emmerich como Coronel Nelec
Ron Eldard como Louis Dainard
Bruce Greenwood como Cooper
Riley Griffiths como Charles Kaznyk
Ryan Lee como Carey
Zach Mills como Preston
Josh McFarland como Tom Ashton
Gabriel Basso como Martin
David Gallagher como Donny





segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Há algo estranho nas dobras do real


Super-herói em ação

Por Sérgio Siscaro

A vida imita a arte. Mas e se a ficção puder se infiltrar na realidade, mudando nossas concepções, as regras do que é e o que não é possível? E se os personagens de faz-de-conta que criamos possam literalmente sair da Segunda Dimensão das páginas de livros, histórias em quadrinhos etc e invadirem a nossa Terceira Dimensão?

Corpo Fechado (Unbreakable/2000) joga com essa premissa. Mas de forma sutil, progressiva. Vamos acompanhando os dramas do protagonista David Dunn (reparou no nome aliterado -- como Peter Parker, Bruce Banner, Matt Murdock?), que descobre ter um, oh, super-poder, e seu relacionamento deteriorado com ex-mulher e filho. E conhecemos Elijah Price, um fã de quadrinhos que parece ser o exato oposto de DD: seus ossos se quebram com bastante facilidade, levando-o a ter uma vida à margem.

Ao invés de, sei lá, partir para uma glorificação do pós-humano na nossa sociedade, o filme opta por mostrar, vagarosamente, como a descoberta dessa possibilidade mexe com a cabeça de David Dunn. E leva a uma conclusão inevitável.


"Está tudo aqui!"


Filme muito melhor do que os seguintes feitos por M. Night Shyamalan, que passaria a ser um queridinho da crítica e do público com Sinais e A Vila. E pode ser considerado o precursor do novo interesse de Hollywood por super-heróis.

Ficha técnica

Título original: Unbreakable
Ano de produção: 2000
Diretor: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis (David Dunn), Samuel L. Jackson (Elijah Price), Robin Wright (Audrey Dunn)


"Não!"


Que amizade linda...

Por Sérgio Siscaro

Quando eu era criança, nos distantes Anos Setenta, a Sessão da Tarde costumava reprisar à exaustão a terceira parte da pentalogia O Planeta dos Macacos. Durante décadas foi o único exemplar da série que eu assisti, já que os demais nunca passavam na programação (OK, tinha a série de TV). O que me chamava mais a atenção não eram as "macacadas" de Cornelius e Zira no século 20, ou a maldade previsível dos militares. Mas a história de como o planeta Terra seria, no futuro, dominado pelos nossos outros primos primatas. Cornelius contou para alguém que uma praga havia dizimado todos os cães e gatos; e os humanos decidiram então adotar os macacos como pets, ajudantes, auxiliares, escravos... Até que um dia um deles disse, pela primeira vez, uma palavra.

E ela foi "não".

O recente Planeta dos Macacos: A Origem (odeio esses títulos invertidos! Não poderia ser A Origem do Planeta dos Macacos? Mas não, tem que exibir a franquia direitinho!) tentou permanecer fiel a esse esquema, deixando de lado a refilmagem de O Planeta dos Macacos feita no início da década passada. E, assim como o filme que divertia as Sessões da Tarde d'antanho, tem uma trama simples, e não muito mais que isso. OK, os efeitos são legais (ao invés de atores em fantasias, optaram por uma solução-Gollum, usando inclusive o mesmo ator).

Mas os clichês são de doer. A "fórmula da inteligência" de um cientista que busca curar seu pai. O "santuário" para onde mandam o jovem macaco-gênio é uma casa de torturas. E por aí vai... O final desafia a lógica mais simples, e leva mais açúcar que a fábrica da Nestlé na Suíça...


Vai um desodorante aí?

E as interpretações? James Franco está beeem além do Duende Verde da trilogia Homem-Aranha, e a namoradiha Freida Pinto (a brasileira, acho, Carolina Aranha) parece que foi incluída no roteiro apenas para que as más línguas não insinuassem alguma relação mais íntima entre o homem e seu macaco. Só o véinho Lithgow salva a pátria -- e olha que o personagem dele tem Alzheimer -- e o Cesar, claro, vivido (com efeitos especiais etc) pelo bom e velho Gollum. Vai um my precious aí?

Só uma palavra salva Planeta dos Macacos: A Origem. Uma palavra que traduz a disposição de não deixar as coisas como estão, de fazer a revolução. Uma palavra que mostra que, afinal, o macaco estava certo.

Não.

Ficha técnica:

Título original: Rise of the Planet of the Apes
Ano de produção: 2011
Diretor: Rupert Wyatt
Elenco: Andy Sirkis (Cesar), James Franco (Will Rodman), Freida Pinto (Caroline Aranha), John Lithgow (Charles Rodman)


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Volver




Por Ana Lucia Venerando


Revi Volver, de Pedro Almodóvar. Claro que falar que ele é um mestre no entendimento da alma feminina é chover no molhado. Mas acredito que nenhum outro diretor conseguiu não apenas captar os sentimentos deste complexo mundo mas também transmiti-lo em personagens vividos por grandes atrizes, como Carmen Maura, velha amiga de jornada desde a época em que o cineasta filmava em Super 8 nos anos 70.

Almodóvar tem este dom de entender a psique feminino. Talvez por ter vivido em uma sociedade matriarcal na cidade La Mancha, uma das regiões mais pobres da Espanha e de forte influência religiosa. Onde os homens da cidade iam embora à procura de uma oportunidade de trabalho e deixavam suas mulheres chorando à beira de um ataque de nervos.

Em Volver, a linda Penélope Cruz, depois de alguns anos sem compartilhar o set de filmagem com o amigo, volta como a personagem Raimunda, que junto com a filha adolescente Paula e a irmã Sole (Lola Dueñas), limpam o túmulo dos pais, mortos em um incêndio ocorrido há alguns anos.A vida de Raimunda não é fácil. Trabalha muito e ainda chega em casa e aguenta o marido bêbado, desempregado e tarado. Claro que a história começa a se complicar cada vez mais.

Raimunda encoberta um crime que ela não cometeu. Mas que, de certa forma, irá exorcizar fantasmas do passado. È como se, ao esconder um fato terrível, o seu passado e o das mulheres de sua família viessem à tona. Doloridas recordações e revelações que explicam os motivos de mágoas e desencontros que poderiam ser evitados. Fica principalmente a sensação de como o universo conspira para que a história se repita, daí o nome Volver.

Mas o título do filme também é uma referência à volta não apenas da parceria de Almodóvar com Penélope mas com a grande amiga e musa do cineasta, Carmen Maura, que interpreta a mãe de Raimunda e Sole. É o personagem de Maura, Irene, que nos alerta que existem fantasmas debaixo da cama e que, a qualquer momento, podem nos pegar pelos pés.

Depois de rever este maravilhoso filme, fico agora na espera da estreia do thriller La Piel que Habito (A Pele em que Habito). Desta vez, quem retorna a filmar com Almodóvar é Antonio Banderas, mais um grande ator descoberto pelo diretor. A sua estreia no Brasil está prevista para novembro.


Título original: Volver
Lançamento: 2006 (Espanha)
Direção: Pedro Almodovar
Atores: Penelope Curz, Carmn Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo
Duração: 1h21
Gênero: Drama


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Verde que te quero verde




Por Sérgio Siscaro
(que teria recebido os poderes de Lanterna Verde em estranhas circunstâncias, no Chile; veja imagem)

O recente boom de adaptações de personagens das histórias em quadrinhos para o cinema tem mostrado a dificuldade em se apresentar o protagonista para a plateia que não conhece, digamos, super-heróis das editoras norte-americanas Marvel (X-Men, Homem-Aranha, Hulk, Homem de Ferro, Capitão América, Blade) e DC (Batman, Superman). Não foi diferente com o recente Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) – mas, ao que parece, Hollywood aprendeu uma ou duas coisas.

Ao apresentar o piloto de testes Hal Jordan – que terá a oportunidade de se tornar o integrante de uma tropa intergalática de super-heróis, os Lanternas Verdes – o filme consegue se ater aos pontor principais da narrativa, sem enrolação: do caráter irresponsável do protagonista ao encontro com o alienígena Bin Sur, passando pela apresentação à Tropa no planeta Oa. A ação transcorre de forma fluida, sem ser truncada sobre explicações mais detalhadas sobre a história.

Esta, por sua vez, não é nenhum clássico imortal – das HQs ou da sétima arte. É uma boa Sessão da Tarde, porém, alguns pontos abaixo dos recentes Homem de Ferro e beeeem inferior ao Batman: O Cavaleiro das Trevas. Mas se segura razoavelmente bem, deixando a impressão que pretende seguir a receita-Marvel-de-adaptações-para-o-cinema fielmente. Vamos ver.


Vale principalmente para os não-iniciados conhecerem um personagem básico do universo DC, criado na década de 1950 e que teve algumas de suas histórias iniciais escritas, em regime de ghost-writer, pelo escritor de FC Alfred Bester. Foi ele, aliás, que teria criado o famoso juramento da Tropa dos Lanternas Verdes - bem parecido, aliás, com o juramento feito pelo personagem de sua clássica novela The Stars My Destination (conhecida também como Tiger! Tiger!).

No dia mais claro
Na noite mais densa
Que o mal sucumba perante minha presença!
Quem faz o mal tudo perde
Diante do poder do Lanterna Verde!


Ficha técnica

Título original: Green Lantern
Ano: 2011
Direção: Martin Campbell
Elenco: Ryan Reynolds (Hal Jordan), Blake Lively (Carol Ferris), Peter Sarsgaard (Hector Hammond), Mark Strong (Sinestro), Tim Robbins (senador Hammond), Angela Bassett (Amanda Waller).



Sérgio Siscaro
(que teria recebido os poderes de Lanterna Verde em estranhas circunstâncias, no Chile; veja imagem)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Deixe-me Entrar



Por Ana Lucia Venerando

Let me In é uma remake do sueco Deixe ela entrar. O filme mostra como pode ser solitária a vida de quem foi condenado à vida eterna e de seus cuidadores. E também de quem é excluído por seus colegas de escola.

O garoto Owen (Kodi Smit-McPhee) é vítima de bullying, além de ter que conviver com a negligência de seus pais que estão naquela fase de separação que ninguém entende ninguém. Owen passa as noites frias no playground do prédio onde mora pensando em vingança e espionando a vida alheia.

Owen encontra na enigmática vizinha Aby (Chloe Moretz) a coragem para enfrentar seus algozes. Mas, principalmente, a companhia tão desejada para aliviar seus momentos de solidão. A amizade entre os dois se fortalece dia após dia, ou melhor, noite após a noite. O laço de cumplicidade entre os dois se torna impossível de ser desfeito.

No final do filme, o verdadeiro mal é extirpado. E o jovem casal foge para uma nova vida, que não será completamente eterna. Maquiagem e efeitos especiais não são exagerados e a história é conduzida mais como um drama do que filme de terror.

Ficha técnica
Elenco: Chloe Grace Moretz, Kodi Smit-McPhee, Richard Jenkins, Cara Buono, Sasha Barrese, Elias Koteas
Direção: Matt Reeves
Gênero: Drama
Duração: 1h45
Ano: 2011


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Cisne Negro





Por Ana Lucia Venerando

Quando o desejo de se atingir a perfeição leva à loucura. Esta foi a leitura que fiz ao assistir Cisne Negro. Delicioso filme interpretado pela excelente Natalie Portman, que merecidamente levou a estatueta do Oscar 2011 de melhor atriz, interpretando a disciplinada e insegura bailarina Nina. O francês Vincent Cassel , como era de se esperar, dá um show de interpretação como o diretor artístico Thomas Leroy.

O filme traz para a telona o clássico balé dramático do compositor russo Tchaikovsky, o Lago dos Cisnes. Esta bela história de feitiço e magia é utilizada para apresentar as angústias, medos e desejos da bailarina Nina, escolhida para substituir a veterana Beth Maclntyre (Winona Ryder) no papel da Rainha Cisne para a nova temporada de apresentação.

Interpretar o leve e sutil Cisne Branco não é problema para Nina. Mas e o Cisne Negro, que requer personalidade e movimentos mais densos e agressivos? Ela se dedica noite e dia para atingir tais características no palco.

Extenuada física e mentalmente, Nina desconfia de todos e acredita que há um grande complô para tirá-la do lugar de primeira bailarina. Descobre também que há um mundo a ser vivido, muito além daquele apresentado pela sua castradora mãe. Durante este estressante período de ensaios, das cobranças do diretor e de sua mãe e, principalmente, de si própria, Nina começa a confundir realidade com fantasia. Levando o espectador a ter também esta sensação.

Perturbada com as alucinações que a assombram (sem saber que são alucinações), Nina incorpora no seu dia a dia o Cisne Negro. Isto a levará à perfeição que sempre buscou mas por um custo muito alto.

Detalhe: o figurino e a maquiagem também são primorosos.




Título Original: Black Swan
Lançamento: 2010 (EUA)
Direção: Darren Aronofsky
Atores: Natalie Portman, Mila Kunis, Winona Ryder, Vincent Cassel
Duração: 1h43
Gênero: Suspense



terça-feira, 26 de julho de 2011

Contra o fanatismo


Por Sérgio Siscaro

Em tempos de fanatismo religioso, como o que recentemente motivou os assassinatos na Noruega, é sempre bom dar uma conferida no que a sétima arte tem a dizer sobre o assunto. Um exemplo recente, mas que passou batido aqui no Brasil, é o filme espanhol (mas falado em inglês) Alexandria (Agora/2009). Estrelado por Rachel Weisz (de O Jardineiro Fiel e Constantine), a trama conta a história real de Hipatia, filósofa da Antiguidade que buscava entender os movimentos planetários na mítica Biblioteca de Alexandria, no Egito - então província do Império Romano.

O eixo principal do filme é o conflito entre a ignorância dos fanáticos – no caso, os cristãos, recentemente colocados em posição de destaque no Império Romano após a conversão de Constantino – e as tentativas de se fazer algo parecido com ciência naqueles tempos remotos. A história, claro, seguiu o curso que se espera quando se lida com paixões tão básicas do ser humano: Hipatia foi morta a mando do bispo Cirilo. Ela foi esquecida por séculos; ele virou santo da Igreja Católica.

A produção tenta se manter longe das convenções típicas do cinema norte-americano – mesmo tendo uma certa "história de amor não-correspondido" correndo de forma paralela. No geral, esse objetivo é bem-sucedido, e faz da obra uma pequena joia escondida. Uma sacada bem interessante é a contraposição dos massacres, mortes e misérias humanos com imagens da Terra no espaço – que têm a ver com a busca de Hipatia pelo mecanismo de movimentos celestes, e também coloca em perspectiva todas as grandes ideias, causas e dores da humanidade, tão pequena na infinidade do cosmos.


Ficha técnica

Título original: Agora
Ano de produção: 2009
Direção: Alejandro Amenábar
Elenco: Rachel Weisz (Hipatia), Max Minghella (Davus), Oscar Isaac (Orestes), Ashraf Barhom (Ammonius), Michael Lonsdale (Theon), Rupert Evans (Synesius).



sábado, 2 de julho de 2011

Cabeças vão rolar!




Por Sérgio Siscaro

Quando Halloween (1978) deu origem ao sub-gênero dos slash movies – com litros e litros de sangue jorrando de indefesos adolescentes em franquias como Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, o próprio Halloween e tantas outras – John Carpenter nem imaginava que o que aterroriza uma geração é a piada da próxima. Foi assim que, nos anos 90, apareceu a série Pânico (Scream, 1997, de Wes Craven), que parodiava os clichês desses filmes de forma inteligente e divertida.

Agora assistimos a uma espécie de volta do gênero, só que pelo caminho dos remakes – reeditando pela enésima vez as mesmas mortes e os mesmos Jasons, Freddies e Michaels dos anos 80. Até Pânico foi meio que revisitado – ainda que aqui seja ainda uma sequência, e não uma refilmagem.

Mas antes disso, no início dos anos 00, uma dessas franquias tentou a volta por cima – e o filme resultante conseguiu misturar a proposta de Pânico com uma certa, digamos, crítica social. Halloween: A Ressurreição (Halloween: Ressurrection), de 2002, buscou fazer uma ponte entre o fraco H20 (1998) e um possível futuro para as matanças de Michael Myers na telona. E o resultado final foi hilário! Um grupo de jovens participa de um reality show cuja proposta é bem simples: eles devem passar a noite na casa do assassino. E aí, claro, as coisas acontecem...



Cabeças rolam, esqueletos caem, pessoas são empaladas, e mensagens são enviadas por SMS! Sem falar na sequência de abertura, com participação especial da heroína da série, Laurie Strode, vivida por Jamie Lee Curtis – e seu adeus (adeus?) à série. O diretor é um velho conhecido da franquia, tendo dirigido Halloween 2: O Pesadelo Continua! (Halloween 2, 1981)


Com citações a outros filmes sangue-e-tripas (preste atenção na referência ao Massacre da Serra Elétrica/Texas Chainsaw Massacre, 1973), Halloween: A Ressurreição critica impiedosamente o fascínio do público com reality shows – literalmente roubando a atenção da galera da festa a fantasia da qual participa o “namoradinho virtual” da heroína. E o elenco também está ótimo – destaques para o produtor picareta Freddy, vivido pelo rapper Busta Rhymes, e pela louquete Jen, interpretada pela tenente Starbuck de Battlestar Galactica.


Ficha técnica
Título original: Halloween: Ressurrection
Ano: 2002
Direção: Rick Rosenthal
Elenco: Jamie Lee Curtis (Laurie Strode), Brad Loree (Michael Myers), Busta Rhymes (Freddie Harris), Bianca Kajlich (Sara Moyer), Sean Patrick Thomas (Rudy), Daisy McCrackin (Donna), Katee Sackhoff (Jen), Luke Kirby (Jim), Thomas Ian Nicholas (Bill)
Duração: 1h34


quarta-feira, 22 de junho de 2011

De volta ao inferno

As viagens no tempo sempre tiveram lugar garantido nas salas de projeção dos cinemas. Elas deram origem a odisseias clássicas, como A Máquina do Tempo (The Time Machine, 1960), que adaptou a ida de um inglês vitoriano ao remotíssimo futuro descrita por H.G. Wells; a histórias românticas, como Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980); e às bizarrices de uma dupla de adolescentes em Bill e Ted - Dois Loucos no Tempo (Bill & Ted's Bogus Journey, 1991). Menos comuns são os filmes que aproveitam o tema para explorar outra vertente da ficção científica: a história alternativa. Afinal, o que aconteceria se pudéssemos modificar algum detalhe crucial do passado?

Um dos filmes que trata dessa questão não é nenhum clássico do gênero, como o primeiro Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, 2004). É uma sessão da tarde assumida, com momentos toscos e falhas de roteiro – mas nem por isso deixa de ser divertido! Dirigido por Don Taylor (de A Profecia 2/Omen 2, 1978), Nimitz - De Volta ao Inferno (The Final Countdown, 1980), que durante um tempo foi frequentador dos Corujões da vida, conta a história de um analista de sistemas (Martin Sheen) que acompanha uma viagem de manobras do porta-aviões nuclear Nimitz, comandado por um irascível Kirk Douglas.

No entanto, um fenômeno meteorológico nunca explicado abre uma fenda no tempo, que transporta a embarcação e sua tripulação para – adivinhe – a véspera do ataque japonês a Pearl Harbour. Como o porta-aviões saiu de sua base no Havaí, está beeeem próximo das forças nipônicas. E aí surge a questão: deve interferir na História e dizimar a frota do Sol Nascente? Ou deixar as coisas seguirem seu curso?



Há aquele momento clássico, explorado em diversos filmes e séries de TV, na qual personagens do passado entram em contato com pessoas e tecnologias do futuro – gerando choque, incredulidade e reações inesperadas (ou nem tanto). Há, claro, uma tentativa de historinha romântica; o personagem mais idealista; o comandante consciente do dever; e o falastrão que só atrapalha. Mas vale como divertimento descomprometido para uma tarde chuvosa.


Ficha técnica:

Nome original: The Final Countdown
Ano: 1980
Elenco: Kirk Douglas (Cap. Matthew Yelland), Martin Sheen (Warren Lasky), Katharine Ross (Laurel Scott).
Direção: Don Taylor
Tempo de duração: 1h43

Sérgio Siscaro

The Commitments




Por Ana Lucia Venerando

Filme maravilhoso. Trilha sonora delíciosa. Esta é a melhor maneira de definir The Commitments – Loucos pela Fama (1991), direção de Alan Parker. Apesar do filme ter a sua classificação como drama, não há drama na história que supere a vontade de cantar e dançar junto com sua trilha sonora.
No subúrbio de Dublin, Jimmy Rabbitte (Robert Arkins), um jovem de 21 anos sonha em ser empresário de uma banda de soul. O primeiro passo é encontrar a galera certa para a formação do grupo. Os mais inusitados seres batem à sua porta, com por exemplo, um punk cantando Barry Manilow e por aí vai...
Claro que, morando em Dublin, há a interferência católica da família de Jimmy. Mas que não supera a devoção de todos a Elvis Presley. Na parede da sala da famíla, por exemplo, o retrato de Elvis está acima da foto do Papa. Também são apresentadas as mazelas da caótica e cinza Dublin.
Depois das incansáveis entrevistas com os pretendentes, Jimmy consegue formar sua banda com três bons, mas inexperientes músicos, três sensuais garotas no backing vocals, um veterano trompetista e um cantor com uma voz fantástica – só que pra lá de egocêntrico e sujo. A encrenca está formada.
Os ensaios são muitos até que a banda consegue fazer seu primeiro show. O evento tão esperado ocorre no salão da igreja local com aprovação do padre. Após o conturbadíssimo show, com direito a choque elétrico , o grupo começa a fazer sucesso e tocar nos pubs da cidade.




Jimmy quer muito mais. Ele quer que a nova banda desbanque o U2. E como seu pai disse: “Bono Vox deve estar morrendo de medo...” Mas a banda realmente é muito boa.
Infelizmente cada integrante está com um propósito e falta maturidade para que eles mantenham a “pegada” juntos. A última esperança é a possibilidade de Wilson Pickett –grande figura do soul norte-americano – tocar junto com eles em um esquema armado pelo trompetista do Commitments. Agora só resta saber se Picket aparecerá no show...
Assisita e confira.
Detalhe: O filme rendeu dois ótimos volumes de CDs.




Título Original: The Commitments
Gênero: Drama
Ano de lançamento: 1991
Tempo de Duração: 118 minutos
Direção: Alan Parker


terça-feira, 21 de junho de 2011

Pânico 4





Por Ana Lucia Venerando

Do you like scare movie? A conhecida frase do vilão (ou vilões) do Ghostface está mais do que presente na quarta continuação de Pânico. Uma sessão da tarde engraçadinha, que deixa de lado o ar de suspense proposto pelo diretor Wes Craven, na primeira história da tetralogia lá em 1996.

Todo o massacre ocorrido em Wodsboro no primeiro filme da saga se torna um motivo de comemoração anual. Os adolescentes da cidade celebram o aniversário dos massacres, espalhando a conhecida máscara de Ghostface pela cidade e organizando festas com maratonas dos filmes Stab – baseados nas histórias reais de Sidney .

E, é justamente nesta época, que a mocinha, não tão mais mocinha Sidney Prescott (Neve Campbell) retorna à sua cidade natal para o encerramento da turnê de lançamento de seu livro de auto-ajuda, no qual ensina como deixar de ser vítima.

Logo começam os assassinatos. A trupe formada por Sidney, Gale (Couteney Cox) e seu marido Dewey (David Arquette), agora xerife da cidade, tentam sobreviver e descobrir quem está por trás das novas e cruéis mortes. Agora a preocupação do vilão é ganhar notoriedade e fãs – um paralelo com as redes sociais.

Título original: (Scream 4)
Ano de lançamento: 2011
Direção:Wes Craven
Atores: Courteney Cox, Neve Campbell, David Arquette, Hayden Panettiere
Duração: 111 minutos
Gênero: Terror


A Montanha dos Sete Abutres





Por Ana Lucia Venerando

Este post é em homenagem ao diretor Billy Wilder, que nesta semana (22 de junho) completaria 105 anos. E, também, porque após seis décadas de sua estreia, o filme A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole) continua mais atual do que nunca já que explora durante dias a mesma notícia com a inserção inescrupulosa de factóides.

Kirk Douglas interpreta maravilhosamente Charles Tatum – um jornalista decadente, sem nenhum dinheiro no bolso, despedido de vários jornais por inúmeros motivos, um deles sua atração pelo álcool. Sua única saída é trabalhar no insignificante jornal de Albuquerque, uma cidadezinha localizada na região do Novo México e carente de notícias.

Antológica é a frase de Tatum quando chega no jornal oferecendo os seus serviços. “Se não tiver notícia aqui, consigo uma - vou pra rua e mordo um cachorro”. Ou então : “Más notícias são as que mais vendem”.

Com suas frases de efeito, Charles Tatum consegue o emprego. Mas um ano se passa e nada, absolutamente nada, acontece em Albuquerque que possa motivar o jornalista a permanecer na cidade, mesmo sabendo que sua contratação em grandes jornais está totalmente descartada.

Totalmente entediado, Charles Tatum começa a entrar em desespero até que, ao fazer uma viagem para cobrir uma infestação de cobras no vilarejo vizinho, ele identifica sua oportunidade de ouro.

Quando ele e seu companheiro Herbie Cook (Robert Arthur), mistura de fotógrafo, auxiliar e motorista, param para abastecer o carro, descobrem que um morador local , Leo Minosa (Richard Benedict), foi soterrado em uma caverna em busca de relíquias indígenas.

Mais do que depressa, o oportunista Tatum prolonga um resgate que levaria algumas horas em um “circo” que leva seis dias para ter seu desfecho. Ele aproveita a ganância não só da mulher de Minosa mas também do xerife local, que quer garantir seu cargo nas eleições que se aproximam.

Um belo e ácido filme do diretor Billy Wilder, que transforma 111 minutos de filme em quatro anos de faculdade de jornalismo.

Título Original: Ace in the Hole
Lançamento: 1951
Direção: BillY Wilder
Atores: Kirk Douglas, Jan Sterling, Robert Arthur, Porter Hall
Duração: 111 minutos
Gênero: Drama


segunda-feira, 6 de junho de 2011

O poder do trovão, na sala do cinema





Onde o arco-íris é ponte
Onde vivem os imortais
O trovão é seu porta-voz
O barra-limpa, o grande Thor!


Por Sérgio Siscaro

Poucos vão se lembrar desses versos. Eram a letra da música de abertura do desenho “desanimado” do Poderoso Thor, feito nos anos 60 – e que foi a última aparição do personagem da Marvel na mídia – excetuando-se, claro, um sofrível filme para TV no qual ele enfrentava o Hulk. Desde então, o Deus do Trovão passou por várias mudanças nos quadrinhos – mudando de identidade secreta, “morrendo” e ressuscitando, trocando de uniforme etc. Agora ele chega à telona, dentro do esforço de se criar uma continuidade alternativa dos principais heróis da editora – como Hulk, Capitão América e Homem de Ferro – nos domínios da sétima arte.

O filme muda vários detalhes da origem e da história estabelecida para o Thor nos quadrinhos, mas busca manter o essencial, de forma “repaginada”. Não é um fracasso como a primeira transposição do Hulk para o cinema, mas perdeu várias oportunidades de fazer algo mais interessante – algo mais na linha de fantasia, a la O Senhor dos Anéis, como chegou a ser sugerido quando o projeto foi anunciado. Funciona, mas como uma Sessão da Tarde – nada mais.

A trama apresenta o deus nórdico aos terrestres, leva ele a enfrentar a ameaça dos Gigantes do Gelo e conhecer a perfídia de seu meio-irmão Loki – que, a exemplo dos quadrinhos, deverá ser o primeiro vilão do grupo Os Vingadores. Também mostra Asgard, a morada dos deuses, e muda radicalmente a ponte Bifrost (o arco-íris da música do desenho), que une o lar das divindidades aos outros oito mundos da criação – incluindo Midgard, ou a Terra.





Esse filme não se tornará memorável porque não ousou apresentar um cenário assumidamente de fantasia, incorporando a magia dos personagens (são deuses, pô!) ao roteiro. No lugar disso, foram apresentadas explicações pseudo-científicas, na linha da velha frase de Arthur C. Clarke (que é citada no filme, inclusive): quando uma tecnologia é muito avançada, fica difícil distingui-la da magia. Tudo bem, mas precisavam transformar a poesia da ponte do arco-íris em uma espécie de cruzamento entre um observatório astronômico e um reator nuclear? Sinto que faltou pouco para colocarem chips no martelo místico de Thor...

Com relação ao material original dos quadrinhos, em que pese a necessidade de se reimaginar o contexto de uma mídia ao transportá-la para outra, também houveram falhas. Um personagem importante – Balder, o Bravo – foi omitido; as características dos Três Guerreiros ficaram no esboço, e o Odin vivido pelo mercenário Anthony Hopkins não tem a estatura que se espera do Pai de Todos. O ator Chris Hemsworth, que viveu o personagem-título, foi correto, assim como Jane Foster (Natalie Portman) e sua trupe. A direção de Kenneth Branagh - um shakesperiano fanático, ao menos no começo dos anos 90 - também poderia trazer algo da fala empolada e elizabetana dos personagens, assim como nas HQs clássicas de Thor.

Por outro lado, o filme mostra a disposição de passar para a telona o senso de continuidade cronológica dos gibis da Marvel, por meio de referências meio escondidas no filme. Uma delas, óbvia para quem acompanha as HQs, é a aparição de Clint Barton – o herói conhecido como Gavião Arqueiro. Outra é a citação a Anthony Stark, e, claro, as aparições de Nick Fury (Samuel L. Jackson) no trecho que vem após os créditos finais. Esse jogo ficou mais claro ao ver Thor no cinema logo após o trailer de Capitão América, também cheio de referências. A questão é ver se isso agradará aos espectadores dos filmes sem contato prévio com os personagens, ou se vai aliená-los da franquia.


Ficha técnica



Título original: Thor
Elenco: Chris Hemsworth (Thor), Natalie Portman (Jane Foster), Tom Hiddleston (Loki), Anthony Hopkins (Odin), Stellan Skarsgård (Erik Selvig), Kat Dennings (Darcy Lewis)
Direção: Kenneth Branagh
Duração: 1h55min
País de origem: EUA


segunda-feira, 23 de maio de 2011

O meu, o seu, o nosso querido Bob



Por Ana Lucia Venerando

Bill Murray é fantástico. E mais fantástico ainda está em Nosso Querido Bob (1991). Richard Dreyfuss também se supera neste filme. Murray interpreta o inseguro e paranóico Bob, que vive sozinho em um apartamento minúsculo, acompanhado apenas de seu peixinho dourado.

Na outra ponta, está o dr. Leo Marvin (Richard Dreyfuss) – psiquiatra bem-sucedido, seguro e com a carreira em pleno auge com o lançamento do seu primeiro livro Passo de Bebê.
Mas a tranquilidade do psiquiatra será quebrada a partir do momento que Bob passa a ser seu paciente. Logo na primeira consulta, o egocêntrico Leo avisa que sairá em férias e retornará após um mês.

Claro que Bob surta. Ele sossega apenas quando descobre o endereço da aconchegante casa de veraneio de seu terapeuta. Viaja quilômetros com seu peixinho pendurado no pescoço (dentro de um vidro com água). Ao chegar na residência da família Marvin, Bob ganha a simpatia dos filhos e da esposa do psiquiatra. Ao mesmo tempo torna a vida de Leo um inferno inacabável.

Bob passa a ser a mais nova celebridade, pois acaba participando da entrevista que dr. Marvin concede à TV sobre o seu livro e suas técnicas de terapia. Já o psiquiatra passa a ser considerado o maluco do pedaço.

O pior é que ele realmente surta e tenta “eliminar” para sempre Bob de sua vida. Claro que não consegue e o futuro será cruel para Leo Marvin.

Ficha Técnica:
Título Original: What about Bob?
Ano: 1991
Duração: 98 minutos
Gênero: comédia
Elenco:
Bill Murray (Bob Wiley)
Richard Dreyfuss (Leo Marvin)
Julie Hagerty (Fay Marvin)
Charlie Korsmo (Sigmund "Siggy" Marvin)
Kathryn Erbe (Anna Marvin)
Tom Aldredge (Sr. Guttman)
Susan Willis (Sra. Guttman
Fran Brill (Lily Marvin)
Direção: Frank Oz
País de Origem: EUA


Lady Vingança



Por Ana Lucia Venerando

No sul-coreano Lady Vingança, o diretor Park Chan-Wook só fortalece o velho ditado “a vingança é um prato que se come frio”. Aos 19 anos, a jovem Lee Geum-Ja (Lee Yeong-Ae) é condenada a 13 anos de prisão pelo sequestro e morte de um menino de 6 anos. Ela assume toda a culpa pelos crimes e acoberta o verdadeiro culpado, seu namorado e professor Sr. Baek (Choi Min-Sik). Quando descobre que está sendo traída, Geum-Ja passa todo o seu tempo na cadeia preparando um plano para se vingar do ex-amante. Até lá passará por todas as situações constrangedoras de um presídio feminino. Mas também usará este tempo para arquitetar seu plano e fortalecer amizades que a ajudarão no futuro.

A narrativa entre vários personagens e tempos cronológicos torna a primeira metade do filme confusa. Toda atenção é pouca. Caso contrário, o espectador acaba se perdendo e não conseguirá distinguir quem é quem. O diretor abusa dos jogos de câmera e brinca com cores fortes , principalmente a vermelha.

Apesar da história de Lady Vingança não ser nada de novo no cinema, a solução e o meio que a protagonista encontra para atingir seu objetivo é inusitada. Jigsaw – de Jogos Mortais – morreria de inveja de Lee.

A película é o último exemplar da trilogia sobre vingança tramada por Chan-Wook. As outras duas são Mr. Vingança (2002) e Oldboy (2003).

Ficha Técnica:
Título original: Chinjeolhan Geumjasshi
Lançamento: 2005
Atores: Lee Yeong-ae, Choi Min-sik, Go Su-Hee, Kang Hye-jeong, Kim Be-Seon, Kim Byeong-ok, Kim Shi-Koo, Kwon Yea-young, Lee Seung-Shin, Lim Su-gyeong
Duração: 112 minutos
Gênero: ação


terça-feira, 10 de maio de 2011

The Goonies




Por Ana Lucia Venerando

Para aqueles que são da geração das brincadeiras de caça ao tesouro e de mapa do pirata, vai a dica do The Goonies. Clássico de 1985, produzido por Steven Spielberg. Pode parecer que a fórmula é datada e só agrada ao pessoal saudosista. Pelo contrário. Assisti The Goonies com uma sobrinha nascida na época de internet e de Harry Potter. E ela chorava de dar risada.

É mais uma fábula que deixa a mensagem que o bem pode vencer o mal. Mas muito divertida. Emoldurado pela voz de Cindy Lauper com a música-tema, The Goonies ‘R’ Good Enough, o filme é ótimo para rir acompanhado de um belo pote de pipoca.

Uma empresa do ramo imobiliário está prestes a derrubar todas as casas de um vilarejo para a construção de um suposto rentável campo de golfe. Mas um grupo de amigos, inconformado com a situação, tem a sorte de encontrar um mapa de tesouro do pirata Willy Caolho.

Encabeçada por Mikey Walsh (Sean Austin) - o Sam, da trilogia O Senhor dos Anéis - a trupe irá cada vez mais se emaranhar em situações “perigosas” ao terem que enfrentar a crueldade e a ganância dos mafiosos Fratelli. Mama Fratelli é interpretada pela ótima atriz Anne Ransey, de Jogue a Mamãe do Trem (1987).

Hilárias são as cenas do personagem Bocão(Jeff Cohen) com os Fratelli, principalmente com Sloth (John Matuszak), caçula da família e vitíma de bullying (na época esta palava nem existia) da própria mãe e dos irmãos.

Ficha Técnia:
Título original: The Goonies
Lançamento:1985
Direção: Richard Donner
Duraçãoo: 115 minutos
Gênero: Aventura