segunda-feira, 6 de junho de 2011

O poder do trovão, na sala do cinema





Onde o arco-íris é ponte
Onde vivem os imortais
O trovão é seu porta-voz
O barra-limpa, o grande Thor!


Por Sérgio Siscaro

Poucos vão se lembrar desses versos. Eram a letra da música de abertura do desenho “desanimado” do Poderoso Thor, feito nos anos 60 – e que foi a última aparição do personagem da Marvel na mídia – excetuando-se, claro, um sofrível filme para TV no qual ele enfrentava o Hulk. Desde então, o Deus do Trovão passou por várias mudanças nos quadrinhos – mudando de identidade secreta, “morrendo” e ressuscitando, trocando de uniforme etc. Agora ele chega à telona, dentro do esforço de se criar uma continuidade alternativa dos principais heróis da editora – como Hulk, Capitão América e Homem de Ferro – nos domínios da sétima arte.

O filme muda vários detalhes da origem e da história estabelecida para o Thor nos quadrinhos, mas busca manter o essencial, de forma “repaginada”. Não é um fracasso como a primeira transposição do Hulk para o cinema, mas perdeu várias oportunidades de fazer algo mais interessante – algo mais na linha de fantasia, a la O Senhor dos Anéis, como chegou a ser sugerido quando o projeto foi anunciado. Funciona, mas como uma Sessão da Tarde – nada mais.

A trama apresenta o deus nórdico aos terrestres, leva ele a enfrentar a ameaça dos Gigantes do Gelo e conhecer a perfídia de seu meio-irmão Loki – que, a exemplo dos quadrinhos, deverá ser o primeiro vilão do grupo Os Vingadores. Também mostra Asgard, a morada dos deuses, e muda radicalmente a ponte Bifrost (o arco-íris da música do desenho), que une o lar das divindidades aos outros oito mundos da criação – incluindo Midgard, ou a Terra.





Esse filme não se tornará memorável porque não ousou apresentar um cenário assumidamente de fantasia, incorporando a magia dos personagens (são deuses, pô!) ao roteiro. No lugar disso, foram apresentadas explicações pseudo-científicas, na linha da velha frase de Arthur C. Clarke (que é citada no filme, inclusive): quando uma tecnologia é muito avançada, fica difícil distingui-la da magia. Tudo bem, mas precisavam transformar a poesia da ponte do arco-íris em uma espécie de cruzamento entre um observatório astronômico e um reator nuclear? Sinto que faltou pouco para colocarem chips no martelo místico de Thor...

Com relação ao material original dos quadrinhos, em que pese a necessidade de se reimaginar o contexto de uma mídia ao transportá-la para outra, também houveram falhas. Um personagem importante – Balder, o Bravo – foi omitido; as características dos Três Guerreiros ficaram no esboço, e o Odin vivido pelo mercenário Anthony Hopkins não tem a estatura que se espera do Pai de Todos. O ator Chris Hemsworth, que viveu o personagem-título, foi correto, assim como Jane Foster (Natalie Portman) e sua trupe. A direção de Kenneth Branagh - um shakesperiano fanático, ao menos no começo dos anos 90 - também poderia trazer algo da fala empolada e elizabetana dos personagens, assim como nas HQs clássicas de Thor.

Por outro lado, o filme mostra a disposição de passar para a telona o senso de continuidade cronológica dos gibis da Marvel, por meio de referências meio escondidas no filme. Uma delas, óbvia para quem acompanha as HQs, é a aparição de Clint Barton – o herói conhecido como Gavião Arqueiro. Outra é a citação a Anthony Stark, e, claro, as aparições de Nick Fury (Samuel L. Jackson) no trecho que vem após os créditos finais. Esse jogo ficou mais claro ao ver Thor no cinema logo após o trailer de Capitão América, também cheio de referências. A questão é ver se isso agradará aos espectadores dos filmes sem contato prévio com os personagens, ou se vai aliená-los da franquia.


Ficha técnica



Título original: Thor
Elenco: Chris Hemsworth (Thor), Natalie Portman (Jane Foster), Tom Hiddleston (Loki), Anthony Hopkins (Odin), Stellan Skarsgård (Erik Selvig), Kat Dennings (Darcy Lewis)
Direção: Kenneth Branagh
Duração: 1h55min
País de origem: EUA


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