
Ei, que foi?
Por Sérgio Siscaro
John Constantine e Dylan Dog são dois personagens dos quadrinhos que têm vários pontos em comum. Ambos têm um jeitão cool, lidam com o sobrenatural, tiveram suas revistas lançadas inicialmente em 1986 (embora Constantine tenha aparecido anteriormente em histórias do Monstro do Pântano), usam “uniformes informais” (o sobretudo de Constantine e a camisa vermelha com blazer preto de Dylan) e tiveram seus traços inspirados por pessoas reais (o cantor Sting no primeiro caso, e o ator Ruppert Everett no segundo). Mas a semelhança que interessa agora é a de que ambos foram adaptados ao cinema em produções razoáveis, a la Sessão da Tarde, mas que desprezaram completamente as características originais dos personagens.
Deixando o filme Constantine (feito em 2005, com direção de Francis Lawrence e a participação do inexpressivo Keanu Reeves no papel principal) para um outro dia, vamos falar de Dylan Dog, que teve o filme Dylan Dog: Criaturas da Noite (Dylan Dog: Dead of the Night) lançada no ano passado, com direção de Kevin Munroe (de As Tartarugas Ninjas – O Retorno/TMNT, de 2007).
A premissa inicial é interessante (apesar de ser um clichezão homérico). Dylan, vivido pelo ator Brandon Routh (mais conhecido por Superman: O Retorno/Superman Returns, aquela bomba de 2006, e pelo seriado Chuck), se afastou da nevoenta Londres, perdeu seu parceiro Groucho e seu amor Cassandra, e virou um detetive de casos de infidelidade conjungal em New Orleans. O desenrolar dos acontecimentos vai, claro, trazê-lo de volta ao mundo sobrenatural – com direito a um novo parceiro, Marcus (vivido por Sam Huntington, que participa da versão norte-americana do seriado de terror Being Human), um zumbi relutante.

Discussão à meia-noite no cemitério
O filme busca unir o terror soft de Hollywood a um humor pré-adolescente – um recuo com relação aos quadrinhos, nos quais as gargalhadas são garantidas, principalmente, pelo aloucado assistente Grouxo. A trama do filme também é beeem esquemática; dá para adivinhar sem problemas o que vai acontecer. Mas distrai – é mesmo uma Sessão da Tarde, em suma.
Mas tem seus momentos. Referências ao criador do personagem nos quadrinhos, Tiziano Sclavi; algumas nojeiras (bem soft, ninguém vai vomitar) que são um distante eco dos bons e velhos filmes de zumbis etc do cinema italiano dos anos 70/80; e, apesar dos desvios do original, uma certa fidelidade em detalhes (como o indefectível “arremesso de revólver”, antes praticado por Groucho, agora pelo novo assistente zumbi). E algumas piadinhas interessantes, como o grupo de autoajuda dos mortos-vivos.
O original
Vale lembrar que o filme que melhor traduziu o clima de Dylan Dog para o cinema foi a produção europeia Dellamorte Dellamore (1994). Dirigido por Michele Soavi (dos clássicos ) e com participação de Sclavi no argumento, o filme traz a atmosfera de absurdo e de comédia dos quadrinhos originais – e, apesar da diferença nas carreiras profissionais dos protagonistas (enquanto Dylan é detetive, Dellamore é coveiro), pode ser considerada uma adaptação mais fiel do que Dylan Dog: Criaturas da Noite.
Ficha técnica
Título original: Dylan Dog: Dead of the Night
Ano: 2010
Direção: Kevin Munroe
Elenco: Brandon Routh (Dylan Dog), Anita Briem (Elizabeth), Sam Huntington (Marcus), Taye Diggs (Vargas), Kurt Angle (Wolfgang), Peter Stormare (Gabriel).
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