segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Premonição 5




Por Ana Lucia Venerando

Bem, eu não me recordo se assisti a todos os filmes Premonição para comparar um com outro.  Mas limitando-me ao 5, a avaliação é de uma sessão da tarde que agrada mais pela última cena, principalmente para quem é fã da “série”.

Desta vez, um grupo de colegas de trabalho está a caminho de um retiro de integração de equipe. Durante os primeiros minutos do filme ocorre aquela apresentação básica dos personagens. Logo de cara sabe-se quem será a pessoa marcada para ter a premonição e salvar seus colegas.

Isto, é claro, até que “aquela que está atrás de todas as coisas” volte para reclamar o que é seu. Nicholas D'Agosto interpreta Sam - o sujeito que está dividido entre a namorada e a chance de um emprego em Paris.

É Sam quem tem a visão de que o ônibus em que a turma está viajando cairá da ponte em reforma. A partir daí, já se sabe a sequência. Mortes bizarras e muito sangue jorrando. Desta vez, os personagens descobrem uma artimanha para evitar que a Morte venha com sua foice e cobre sua dívida. Só não vou contar qual é a artimanha para não estragar...

O mais interessante é que Sam e sua namorada conseguem sair ilesos até o momento que embarcam em um avião com destino a Paris. Quem se lembra do primeiro Premonição?


Ficha Técnica

Lançamento: 2011
Gênero: Terror
Direção: Steven Quale
Elenco: Nicholas D'Agosto, Emma Bell, David Koechner
Direção: 93 minutos



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Que barbaridade!


Saiba, ó Príncipe
Que entre os anos em que os oceanos tragaram Atlântida
E os anos em que se levantaram os filhos de Aryas
Houve uma era inimaginável...


Por Sérgio Siscaro

  

O grande problemas de Conan, o Bárbaro (2011) é o fato de que, no lugar de ter aproveitado a oportunidade histórica - sim, histórica - de trazer às telas um filme fiel à obra do escritor texano Robert E. Howard (1906-1936), se contentou em ser uma espécie de pastiche do filme Conan, o Bárbaro / Conan the Barbarian (1982), que catapultou a carreira do austríaco Arnold Schwarzenegger (e deu ao mundo duas sequências horríveis, Conan, o Destruidor / Conan the Destroyer, de 1984, e Guerreiros de Fogo / Red Sonja, de 1985 - esta uma sequência não-oficial). 

Nada contra o filme de 1982 - mas ele tem pouquíssimo a ver com o heroi criado nos pulp magazines da década de 1930, e cuja popularidade se expandiu nas décadas de 1960 e 1970 graças ao relançamento de seus contos em livros de bolso e às adaptações da Marvel para os quadrinhos. A nova versão seria uma ótima oportunidade de se aproveitar os elementos existentes na obra original para se criar algo diferente - afinal, ao contrário da versão popular, o Conan dos pulps não era um armário brutamontes, mas um arguto estrategista. Forte, sim, mas também inteligente. 

O ator escolhido, Jason Momoa (da série de TV A Guerra dos Tronos) não compromete o filme; o grande problema é o roteiro. NOvamente foi dado foco a uma questão de vingança (a tribo de Conan morta quando ele é criancinha etc), ao invés de se buscar nos contos de Howard histórias legais. Que filmes não sairiam de contos como A Torre do Elefante, A Hora do Dragão e A Rainha da Costa Negra

Além de derivativa, a trama parece não ir a lugar nenhum, preocupando-se com um vilão de opereta e deixando vários buracos na narrativa. Há cenas que não servem para nada, a não ser como acompanhamento às pipocas derramadas no chão dos cinemas em um verão qualquer. 

A obra de Howard teve, contudo, uma adaptação que quase chegou lá. Salomão Kane: O Caçador de Demônios / Solomon Kane (2009) pelo menos apresentou o personagem e suas motivações - embora de forma exagerada, dando a impressão de que o filme era apenas uma prequel antes que uma saga propriamente dita começasse. Mas pelo menos o roteiro tinha uma direção, e os monstros eram legais! Kull, o Conquistador / Kull (1997) não foi um grande filme, mas também não era tão constragedor quanto este Conan – e olha que tinha o inexpressivo Kevin Sorbo (da série de TV Hércules) como o rei atlante da Valúsia! 

Como Conan, o Bárbaro também não foi nenhum sucesso de bilheteria, a franquia deve ficar enterrada mais uns anos. Mais sorte na próxima vez? Quem sabe...

Ficha técnica

Título original: Conan the Barbarian
Ano: 2011
Direção: Marcus Nispel
Elenco: Jason Momoa (Conan), Stephen Lang (Khalar Zym), Rachel Nichols (Tamara), Ron Perlman (Corin), Rose McGowan (Marique)
Duração: 113 minutos (mas parece uma eternidade!)



Pânico e as continuações


Por Sérgio Siscaro

Continuações podem ser uma praga. Na verdade, geralmente são. Significam uma falta de ideias por parte dos estúdios, a vontade de arrecadar mais dinheiro em cima de bilheterias bem-sucedidas, e acabam diluindo o filme original. Foi tendo isso em mente que a continuação da franquia de terror Pânico, lançada em 1997, usou essas expectativas para jogar com os espectadores. 

Logo no início do filme, que dá sequência aos violentos ataques do assassino serial Ghostface, uma turma universitária discute o mérito (ou falta dele) das continuações. Claro que os exemplos clássicos de sequências bem-sucedidas foram citados – O Poderoso Chefão 2 (The Godfather 2, 1974) e O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back). E mesmo casos que já foram vistos de forma mais positiva, como Aliens, de 1986 (que estragou o clima de terror de Alien com toneladas de ação) e O Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2: Judgement Day, 1991).

Voltando a Pânico 2. O diretor Wes Craven usa conscientemente os dados que os espectadores têm (e os personagens), a respeito do que aconteceu no filme anterior, para redirecionar a trama e apresentar um final surpreendente. E mostra a ação do tempo sobre os personagens - o que inclui desde a chegada de uma repórter arrivista disputando os holofotes com a sensacionalista Gale Weathers, até os temores de que a história sempre se repete. 

Assim como no primeiro filme, a sequência inicial traz um assassinato cruel - mas, desta vez, ele acontece como decorrência direta dos acontecimentos anteriores, já que ocorre na pré-estreia do filme Stab - que seria a versão fictícia de Pânico em seu universo que já é fictício! Metaficção no cinema slasher? Pode apostar!

Ficha técnica

Título original: Scream 2
Ano: 1997
Diretor: Wes Craven
Elenco: Neve Campbell (Sidney Prescott), Courteney Cox (Gale Weathers), David Arquette (Dewey Riley), Jamie Kennedy (Randy Meeks) e Liev Schreiber (Cotton)
Duração: 120 minutos



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Renascido das trevas


Não está morto o que pode eternamente jazer
E, após eras estranhas, até mesmo a morte pode morrer.
Necronomicon


O horror, o horror...

Por Sérgio Siscaro


A obra de terror do norte-americano H.P. Lovecraft (1890-1937) é uma das mais mal-adaptadas para o cinema. Apesar de influenciar centenas de filmes nos últimos 50 anos (ou mais), o horror cósmico do escritor de Providence – repleto de criaturas inomináveis, cultos apocalípticos e dimensões inescrutáveis – raras vezes foi transposto com sucesso ao cinema. Um dos fatores que levou a isso foi, certamente, o excesso de pastiches, que saturou o gênero e o transformou ora em comédia, ora em gore movie, já na década de 1980. Exceções são as produções de Dan O’Bannon, O Filho das Trevas (ou Renascido das Trevas/The Ressurrected, 1992) e de Stuart Gordon, Dagon (Dagon, 2001) – sendo que este último não é uma adaptação fiel de uma história específica, mas de elementos de vários contos lovecraftianos.

Vestido para matar... criaturas antediluvianas!

Dentro da vertente de comédia, uma surpresa recente bem interessante é O Último Lovecraft: A Relíquia de Cthulhu (The Last Lovecraft: Relic of Cthulhu, 2009), dirigido por Henry Saine. Como o próprio título já deixa entrever, é uma tiração de sarro com os elementos que, na época em que Lovecraft publicava seus contos em revistas como a Weird Tales, eram levados a sério. Usar essas histórias para comédia não é algo novo – o próprio Stuart Gordon fez vários, como Re-animator (Re-animator, 1985) e Do Além (From Beyond, 1986). A diferença é que antes tratavam-se de adaptações que descambavam para a comédia. Agora, trata-se de satirizar o universo de Lovecraft por atacado – de forma semelhante ao que foi feito com relação à franquia Jornada nas Estrelas no filme Heróis Fora de Órbita (Galaxy Quest, 1999). 

O roteiro d’O Último Lovecraft parte da premissa que os mitos de Cthulhu eram reais, e estão prestes a desabar sobre um mundo indefeso. Para defendê-lo, uma trinca de nerds (“liderada” por um descendente do escritor, que seria imune aos comandos hipnóticos dos seres abissais) roda os EUA em busca de um aliado na luta contra as hordas vindas de éons esquecidos... e fogem dos seres que querem unir dois pedaços de um amuleto (claro!) e, dessa forma, libertar Cthulhu da cidade submersa de R’lieh... Há inclusive sequências animadas dando uma geral na mitologia lovecraftiana... de forma bem, digamos, anti-lovecraftiana!


Olha o Cthulhão aí, gente!
O filme é independente, e razoavelmente bem-feito; é claro que as fantasias e maquiagens são absolutamente execráveis, mas sua função (imagino), é somar um efeito cômico a um roteiro já absurdo por definição, e tornado pior pela disposição do roteirista (que também interpreta um dos impávidos protagonistas) em tirar uma dos Mitos de Cthulhu. E consegue!

Uma advertência: o filme é para iniciados – ou seja, tem graça se o espectador conhecer o objeto da gozação. Se não, restam as piadas em cima de uma trinca de nerds, o que não é muito original... 

Ficha técnica

Título original: The Last Lovecraft: Relic of Cthulhu
Ano: 2009
Direção: Henry Saine
Elenco: Kyle Davis (Jeff), Devin McGinn (Charlie), Barak Hardley (Paul), Gregg Lawrence (Captain Olaf), Ethan Wilde (Starspawn)
Duração: 1h18min


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Meia Noite em Paris




Por Ana Lucia Venerando

Nunca fui grande fã de Woody Allen. De uns tempos para cá estou gostando muito. Meia Noite em Paris é inteligente e despretensioso. Um filme na medida certa. A película já começa com um diálogo (sem imagens) entre Gil Pender (Owen Wilson) e sua noiva Inez (Rachel McAdams). Daí pula-se para cenas maravilhosas de Paris, apresentando a cidade não apenas como pano de fundo da história mas como personagem.
Gil é um bem-sucedido roteirista de cinema, porém está descontente com a profissão. Seu sonho é largar tudo e se tornar um escritor. Visitando Paris com a noiva e sua pedante família, Gil prioriza a redação de seu primeiro livro – uma história saudosista de um personagem que trabalha em um antiquário. Sua noiva não está nada interessada nesta nova empreitada de Gil e o humilha constantemente em frente de um antigo namorado sabichão.
Cansado da pressão, da falta de cumplicidade de sua parceira e, principalmente, da rotina e da falta de inteligência dos dias atuais, o escritor resolver ter uma noite de sossego e caminha sozinho pela cidade. Após as 12 baladas da meia-noite, Gil passa a ter uma experiência única ao viajar no tempo para a Paris dos anos 20.
Aí está a delícia do filme. Gil, que muito bem poderia ser Allen, passa a ter noites regadas com conversas deliciosas com escritores e artistas. Torna-se amigo de Ernest Hemingway, do casal Fitzgerald e se apaixona por Adriana (Marion Cotilard) – namorada de Picasso. A fantástica Katy Bates interpreta a escritora e poetisa Gertrude Stein. È Gertrude quem dá dicas para Gil como ele deve mudar o seu presente. Aí ele se toca que é possível tornar o presente tão interessante quanto o passado, que por muitas vezes, gostaríamos de ter vivido.


Ficha Técnica

Título original: Midnight in Paris 
Lançamento: 2011
Direção: Woody Allen
Elenco: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Carla Bruni-Sarkozy, Michael Sheen, Nina Arianda, Alison Pill, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Corey Stoll, Kurt Fuller, Mimi Kennedy
Duração: 1h40min
Gênero: Comédia romântica


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Adaptações & assombrações

Yo no creo en las brujas.
Pero que las hay, las hay!
Adágio espanhol


Por Sérgio Siscaro

Uma forma de se avaliar se um filme que adapta uma obra literária foi bem-sucedido é ver o quanto ele foi fiel ao livro, HQ ou o que seja - e de que forma o diretor ou roteirista conseguiu transpor para a tela o que nem sempre é facilmente traduzível na transição de um meio para o outro. A Casa da Noite Eterna (The Legend of Hell House/1973), que traz ao cinema a novela Hell House de Richard Matheson (o mesmo de Eu Sou a Lenda e Encurralado, entre tantos outros), é um exemplo de como a fidelidade à letra e ao espírito da obra original nem sempre bastam. Afinal, esta pode ter seus problemas.



Dirigido por John Hough, o filme conta a história de um grupo de especialistas em fenômenos paranormais que vai a uma casa mal-assombrada, a Mansão Belasco, para descobrir porque ela é assim - e "exorcizá-la". Há o cientista, que explica tudo como energias residuais (e que pretende resolver o problema com uma máquina), e sua assistente; a médium espiritual; e um médium físico, o único sobrevivente da última experiência semelhante feita na casa, há vinte anos.

A trama é inteligente, e o filme consegue captar bem as mudanças de comportamento dos personagens, suas desconfianças mútuas e o mistério - afinal, o que há na casa? Entidades que possuem as pessoas ou uma atmosfera que libera seus lados mais obscuros? Nesse ponto, a história guarda bastante semelhança com o livro A Assombração na Casa Da Colina, de  Shirley Jackson, que também foi adaptado para a telona, com Desafio ao Além (The Haunting/1963). O problema é que o final, tanto o livro de Matheson quanto o filme de Hough não sustentam as expectativas e o clima da obra (não, não vou contar). Se não fosse isso, ambos seriam clássicos!

Vale ressaltar a ótima performance de Roddy McDowall (sim, o Cornelius de O Planeta dos Macacos), que interpretou o sobrevivente Franklin Fischer, sempre à beira de um ataque de nervos; e da igualmente perturbada Florence Tanner, vivida por Pamela Franklin.


Ficha técnica

Título original: The Legend of Hell House
Ano: 1973
Diretor: John Hough
Elenco: Pamela Franklin (Florence Tanner), Roddy McDowall (Benjamin Franklin Fischer), Clive Revill (Dr. Barrett), Gayle Hunnicutt (Ann Barrett), Roland Culver (Mr. Deutsch), Peter Bowles (Hanley)
Duração: 1h35min


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eu acredito em trolls!

"I want to believe"
Pôster no escritório de Fox Mulder, na série Arquivo X

Quem disse que o cinema escandinavo se resume a Ingmar Bergman?

Por Sérgio Siscaro

Desde que foi lançado o filme A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project/1999), a ideia de se ter uma trama filmada "como se fosse real", a fim de reforçar o bom e velho argumento do "baseado em fatos reais", proliferou – embora não tenha atingido o grau de tensão da produção original. As produções da série Atividade Paranormal, por exemplo, acabam sendo fraquinhas, apesar de seguirem essa receita. Não é o que acontece com O Caçador de Troll (Trolljegeren/2010), produção norueguesa ainda inédita aqui no Brasil.


O filme é uma espécie de paródia/homenagem à A Bruxa de Blair, e acompanha uma equipe de TV de uma universidade, que busca descobrir por quê tantos ursos estão morrendo... Logo eles se deparam com um misterioso caçador – de trolls! Sim, aqueles monstrengos gigantes da mitologia europeia, de formatos variados, e que viram pedra quando expostos à luz do sol!

O absurdo da proposta fica mais bizarro com o uso do recurso da câmera – e um pouco de Arquivo X, com aquele argumento de que "existem coisas que não querem que as pessoas saibam". E tentam convencer os espectadores que aquilo – e é beeem bizarro – é real! Por essa razão, o filme se torna hilário, de rolar de rir! E sem ceder às trasheiras (que também são legais) de efeitos toscos e interpretações idem. O filme mantém seu foco até o final, sem deixar cair a peteca. E a trilha sonora, incidental (afinal, são teoricamente gravações autênticas), é bem legal. Um exemplo é a música "Mjød", que aparece nos créditos finais, da banda pesada norueguesa Kvelertak.

Atenção para o momento hilário: o caçador preenchendo um formulário sobre os seres que vem caçando...

Ficha técnica

Título original: Trolljegeren
Ano: 2010
Diretor: André Øvredal
Elenco: Otto Jespersen (Hans), Glenn Erland Tosterud (Thomas), Johanna Mørck (Johanna), Tomas Alf Larsen (Kalle), Urmila Berg-Domaas (Malica), Hans Morten Hansen (Finn Haugen)
Duração: 1h43min


terça-feira, 24 de abril de 2012

Cadê a dama que estava aqui?


– They also denied seeing her?
– British diplomacy, doctor. Never climb a fence if you can sit on it. Old Foreign Office proverb.

Por Sérgio Siscaro

Existem duas grandes razões para se assistir um filme antigo – e por antigo, quero dizer com mais de 70 anos. Entretenimento – tanto com a trama em si quanto com relação à como as pessoas faziam filmes, se vestiam, se comportavam etc, além do desempenho dos atores; e um interesse mais, digamos, acadêmico – analisar como a narrativa era passada para a tela, a influência do contexto histórico, sua importância na história do cinema ou na carreira de determinado diretor ou ator etc. Os melhores “old movies”, na minha opinião, acabam chamando a atenção para todos esses elementos. Esse é o caso da produção britânica A Dama Oculta (The Lady Vanishes/1938). 

A dama existe - ou será apenas uma figura da imaginação da heroína?
 Nunca fui admirador dos filmes de Alfred Hitchcock (1899-1980). À exceção de Festim Diabólico (Rope/1948) e Psicose (Psycho/1960), sempre considerei seus filmes previsíveis em seus “finais-surpresa”. Para mim, ele foi injustamente colocado nas alturas do panteão cinematográfico, da mesma forma que os livros de whodunnit da escritora inglesa Agatha Christie já são vistos com menos reservas pela tal da grande cultura, ávida em querer saber se o mordomo é o culpado ou não do crime. 

Mas isso não quer dizer que ele fosse incapaz; muito pelo contrário. Mesmo em seus filmes mais “de fórmula”, o conhecimento técnico das ferramentas que o cinema proporciona e que a narrativa permite é muito bom. E isso já transparece em A Dama Oculta – que é um dos seus primeiros filmes, da chamada “fase britânica”, e que foi relançado recentemente entre nós pela Folha em sua coleção de Cinema Europeu. 

Um caso típico de overbooking na Europa Central.
Tendo como pano de fundo o clima tenso de uma Europa às vésperas da 2ª Guerra Mundial, com o Terceiro Reich de um lado e o Reino Unido do indeciso Neville Chamberlain de outro, e trazendo “misteriosos” países alpinos com seus guardas fardados de forma antiquada e seus idiomas indecifráveis, o filme centra-se, claro, em um punhado de protagonistas britânicos. A princípio hospedados em um hotel, eles embarcam em um trem e logo se encontram em meio ao desaparecimento de uma passageira de um trem – que pode ou não existir. 

Apesar de jogar fortemente para a platéia, usando estereótipos e situações engraçadinhas, o filme também “tira uma” da seriedade e da fleuma dos ingleses – especialmente em uma dupla de passageiros, cujo maior interesse na vida é acompanhar jogos de críquete. Uma boa auto-tiração de sarro (a melhor frase é a que diz que a diplomacia britânica se baseia em não se envolver em “tirar o seu da reta” para não se envolver em nenhum problema), e um prenúncio das tramas “conspiratórias” futuras de Hitchcock. 

"Eu vi, eu juro que vi, ninguém acredita em mim..."
No entanto, o filme – talvez até por ser uma experiência pioneira no campo do mistério “agathachristiano” – se ressente de alguns problemas sérios de ritmo. O início, da apresentação dos personagens, é bastante extensa, ao passo que o grande mote do filme – o desaparecimento da dama e suas consequências imediatas – poderia ter um espaço maior, colocando a sanidade da única testemunha em xeque etc. Há muitos momentos cômicos – nada contra a boa e velha risada tensa em um filme sério, mas descamba, em alguns momentos, para uma quase chanchada. E a resolução parece meio comprimida no final – e usa uma série de coincidências e acontecimentos forçados. 

Mas vale a pena ver – nem que seja para rir dos efeitos visuais limitadíssimos da época. E preste atenção na serenata! 

Hitchcock tirou os coelhos da cartola nesse filme?
PS: Uma refilmagem foi feita em 1979, com Cybill Shepperd (a Gata do seriado A Gata e o Rato). 

Ficha técnica 

Título original: The Lady Vanishes 
Ano: 1938 
Diretor: Alfred Hitchcock 
Elenco: Margaret Lockwood (Iris Henderson), Michael Redgrave (Gilbert), Paul Lukas (Dr. Hartz), Dame May Whitty (Miss Froy), Cecil Parker (Mr. Todhunter), Linden Travers ('Mrs.' Todhunter), Naunton Wayne (Caldicott), Basil Radford (Charters). 
Duração: 1h36min 


domingo, 4 de março de 2012

Que tal um café na Tiffany’s?



Por Ana Lucia Venerando

Ai a Tiffany’s, ou melhor, Breakfast at Tiffany’s. Título original da comédia romântica que, no Brasil, ganhou o nome Bonequinha de Luxo. Baseado no livro de Truman Capote, o filme conta de maneira leve e despretensiosa a ociosidade e ambição da jovem Holly Golightly (a belga Audrey Hepburn – no papel que marcou sua carreira). A garota sulista mora em Nova York. Não tem ninguém. Apenas um gato sem nome. É uma prostituta de luxo e tem como objetivo principal encontrar um marido rico.

Claro que ele deve estar entre os homens milionários dos EUA com menos de 50 anos. Mas também pode ser um brasileiro morenão com pretensões de ser o presidente da República.

Tudo é muito igual na vida de Holly. Toda manhã, lá pelas 6 horas, após a diversão noturna, volta para seu apartamento de táxi. Mas antes pede para em frente à Tiffany´s – quer admirar a suntuosa vitrine tomando seu café.

Isto até conhecer Paul (George Peppard) que tenta alavancar sua carreira de escritor. Mas, na verdade, o jovem de olhos azuis tem uma vida muito parecida com a sua vizinha Holly já que é “financiado” por senhoras mais maduras.

O filme foi para as salas de cinema em 1961. Venceu dois Oscars: melhor trilha sonora em comédia ou drama e melhor canção original com Moon River, de Henry Mancini.

Perto das comédias românticas de hoje, Bonequinha é inocente demais. Mas deve ser assistido pela fantástica atuação de Hepburn (vítima de câncer em 1993) e pelo lindo figurino. Qual mulher não queria ter um daqueles pretinhos “básicos”?

E, atenção cinéfilos: Para comemorar os 50 anos de existência do filme a Paramount lançou um kit com brindes contendo o blue-ray e o dvd da produção, o roteiro das filmagens todo anotado pelo diretor Blake Edwards, uma carta que ele enviou para Audrey em agradecimento e fotos deste clássico, todas em preto e branco.

Ficha Técnica:
Título Original: Breakfast at Tiffany’s
Elenco:
Audrey Hepburn
George Peppard
Mickey Rooney
Patricia Neal
Direção: Blake Edwards
Lançamento: 1961
Duração: 114 Minutos


domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret




Por Ana Lucia Venerando

Uma linda e preciosa declaração de amor à sétima arte. Para mim esta é a melhor definição de A Invenção de Hugo Cabret. Uma poesia, dirigida por Martin Scorsese. Sim. Ao contrário, dos também ótimos Os Infiltrados, Táxi Driver e Cabo do Medo, desta vez o diretor deixa de lado a violência e loucura inerente ao ser humano e presenteia o público com uma linda homenagem ao cinema.

Na primeira cena do filme, o efeito 3D (fantástico neste filme) já nos leva para dentro da estação ferroviária, localizada em Paris. É lá que mora o jovem órfão Hugo Cabret (Asa Butterfile). Sozinho no mundo (seu pai foi morto em um incêndio no museu e o tio é um beberrão ausente e canastrão que o abandonou à própria sorte).

Enquanto seu pai (Jude Law) ainda era vivo, Hugo aprendeu com ele o ofício de relojoeiro. Trabalhando em um museu, seu pai encontra um autômato quebrado e passa horas com o filho tentando consertá-lo até que o terrível incêndio interrompe a tranquila vida dos dois. O tio de Hugo o leva para morar na estação de trem onde joga nas mãos do garoto a responsabilidade de manter funcionando todos os relógios do local. Hugo passa o dias executando esta tarefa e tentando consertar o autômato com a certeza de que encontrará uma mensagem deixada pelo seu pai. Porém, ainda faltam muitas peças para seu pleno funcionamento.

A solução encontrada por Hugo é roubar sorrateiramente pequenas engrenagens da loja de brinquedos de corda localiza da dentro da estação ferroviária. Logo, o dono da loja, Papa George (Ben Kingsley) descobre as artimanhas do garoto. Ele também descobre que o menino tem em seu poder um caderno de anotações com desenhos e dicas de funcionamento do autômato. Perplexo com a descoberta, George retém o caderno em seu poder. Recuperá-lo é questão de vida e morte para Hugo que nesta empreitada conhece a jovem Isabelle (Chloë Moretz), adotada por George e sua esposa após a morte de seus pais. A partir daí, a história se desenrola como um delicioso conto de Charles Dickens.

Afinal, o filme não é somente uma homenagem ao cinema. Também faz sua merecida reverência à literatura pois a personagem de Isabelle é fascinada por livros, que tanto deram origem a ótimos roteiros de filmes (como o próprio Hugo).

Ótima participação de Cristopher Lee. Sim, aquele que assustou durante anos o público com sua capa preta de vampiro, agora é um gentil bibliotecário. Também fantástica participação de Sacha Baron Cohen como o hilário inspetor da estação e seu fiel cão Maximillian.

Após várias aventuras, Hugo e Isabelle descobrem que Papa George é ninguém menos que o cineasta Georges Méliès, o diretor, produtor, roteirista e ator de Viagem à Lua (1902) e também inventor de autômatos.




A história não é nenhuma trama cheia de segredos. Mas Scorsese a conduziu como uma obra de arte, sem excesso e sem ser piegas. Usou os efeitos 3D sabiamente. Utilizou com maestria o que há de mais moderno numa ode aos primórdios do cinema com imagens de filmes dos irmão Lumière, do próprio Méliès e de todos aqueles que nos deixaram esta herança maravilhosa e que, infelizmente, raramente são lembrados.
Titulo Original: Hugo
Gênero: Aventura, Drama e Mistério
Duração: 127 min.
Origem: Estados Unidos
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: John Logan e Brian Selznick
Censura: 10 anos
Ano: 2011






quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Verdade 0 X 1 Lenda


This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend.
Mr. Scott, em O Homem que Matou o Facínora

Por Sérgio Siscaro

O que realmente aconteceu na história? A História busca se basear em depoimentos, documentos e mesmo investigações de ciências exatas (como no caso da datação de fósseis) para determinar, na medida do possível, como foi o passado. Em uma escala de tempo menor, essa "versão oficial" dos fatos é aquela divulgada pela imprensa - "se está escrito, é verdade", como diziam os antigos. Esse poder da comunicação deu origem a uma série de distorções, mitos e inverdades que acabaram passando por verdades. Entre a verdade e o mito, publica-se o mito - sempre.

Essa é a linha motriz de um filme que está complentando 50 anos em 2012. Dirigido por John Ford (tratado no último post), O Homem que Matou o Facínora/The Man Who Shot Liberty Valance (1962) é, assim como os clássicos A Montanha dos Sete Abutres/Ace in the Hole (1951) e A Primeira Página/Front Page (1974), uma severa crítica ao processo de mitificação promovido pela mídia - embora, nesse caso, algo involuntária. O filme conta a história de Ransom Stoddard, um senador bem-sucedido que volta à cidadezinha onde sua carreira começou. E aí a narrativa propriamente dita começa, na época em que ele era apenas um advogado do Leste - e que, como tal, cumpre o que se espera dele em um faroeste: é o janota sofisticado e alfabetizado, pouco à vontade com os jeitos rudes da comunidade de pioneiros de fronteira e algo ingênuo.

Ele acaba se indispondo com o valentão local, Liberty Valance (interpretado magistralmente pelo bom e velho Lee Marvin), e o chama para um duelo. É claro que ele seria massacrado pelo vilão, mas vai - um pouco também para impressionar a mocinha Hallie; no entanto, Valance acaba sendo morto por Tom Doniphon (John Wayne, claro!). E, de forma semelhante à usada na novela Roque Santeiro - com sua viúva Porcina, a "que foi sem nunca ter sido" -, todos na cidade pensam que quem livrou a cidade do bandido foi Stoddard.




O vilão

Detalhe melodramático obrigatório: Doniphon também era apaixonado por Hallie, que preferiu a sofisticação do futuro senador. Assim como em Rastros de Ódio/The Searchers (1956), também de Ford, Wayne é aquele personagem de uma era que foi deixada para trás, e que não encontra lugar no Novo Oeste. E cujo funeral daria o motivo para que Stoddard voltasse à cidade, acompanhado da sra. Stoddard (Hallie, claro), anos depois.

Filmão.

Ficha técnica

Título original: The Man Who Shot Liberty Valance
Ano: 1962
Direção: John Ford
Elenco: James Stewart (Ransom Stoddard), John Wayne (Tom Doniphon), Vera Miles (Hallie Stoddard), Lee Marvin (Liberty Valance), Edmond O'Brien (Dutton Peabody), Andy Devine (delegado Link Appleyard), Ken Murray (Doc Willoughby), John Carradine (major Cassius Starbuckle)
Duração: 2h03min


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mundos do trabalho


Os verdadeiros paraísos são sempre os paraísos perdidos.
Marcel Proust, 1927

Por Sérgio Siscaro

De um lado, a erosão dos valores tradicionais de uma comunidade de mineiros do interior do País de Gales; de outro, a negra sombra do desemprego e das alterações no ambiente de trabalho acelerando esse processo de mudanças. Em termos gerais, essa é a linha de Como Era Verde o Meu Vale/How Green Was My Valley (1941), adaptação do romance homônimo de Richard Llewellyn lançada apenas dois anos antes.

Visto hoje, o filme mostra uma série de problemas - que, na verdade, eram a linha das produções dramáticas da época. Excesso de sentimentalismo, personagens-chavões, situações melodramáticas... No entanto, o roteiro acaba se mostrando uma interessante recriação do universo dos mineiros galeses da virada do século XIX para o XX - marcado por pobreza, condições adversas de trabalho e, claro, desemprego.

Tanto que, no filme, um dos primeiros fatores da "vida moderna" a se instaurar na comunidade é a necessidade de se criar um sindicato para combater a exploração dos proprietários da mina. O jardim do Éden se foi, e o vale nunca mais seria tão verde...


O vale, tão feliz...

Cabe um parêntese. Não vi o novo filme de Steven Spielberg, Cavalo de Guerra/Warhorse (2011), mas ao que parece ele usa uma sensibilidade semelhante em sua primeira metade ao descrever a vida de uma comunidade de pobres camponeses.

Outro ponto forte do roteiro é o de mostrar que a corrosão econômica, digamos assim, é acompanhada pela erosão dos valores de vizinhança. Os fuxicos, fofocas e mesmo atos de violência se instauram - enterrando de vez aquela idílica comunidade galesa. E uma crítica ao sistema educacional da época, marcado por duros castigos corporais, também aparece rapidamente no filme.


Angharad, de volta após um casamento de conveniência

Apesar de poder se prestar a uma leitura conservadora e ilusória (do tipo "no meu tempo as coisas eram melhores"), Como Era Verde Meu Vale também é um documento - de como as pessoas na década de 1940, ainda relativamente próximas de um passado pré-industrial (ou quase), olhavam para trás com nostalgia. E também serve para mostrar aos desavisados que os problemas sociais não são nenhuma novidade.

Do ponto de vista cinematográfico propriamente dito, o filme é um grande exemplo do que Hollywood podia fazer quando delegava suas produções a seus melhores diretores. John Ford, hoje mais conhecido por seus faroestes mitológicos, mostra um domínio de luzes e sombras exemplar; certamente o trabalho do diretor de fotografia Arthur C. Miller colaborou para esse resultado. E algumas cenas do filme - do patriarca saindo de um cômodo sem muita iluminação por uma porta aberta, parecendo que leva o peso do mundo nas costas, e de seu filho mais novo, voltando imundo da mina - remete a outro filme de Ford: Rastros de Ódio/The Searchers (1956), quando o personagem Ethan (vivido por John Wayne) sai do rancho.


O chiaroescuro de Ford

Quanto ao elenco, vale lembrar que o personagem principal, o garotinho Huw, é vivido por Roddy McDowall - sim, o Cornelius dos velhos filmes da série Planeta dos Macacos! E sua irmã Angharad é vivida por Maureen O'Hara (a Esmeralda de O Corcunda de Notre-Dame/The Hunchback of Notre Dame, 1939).
PS: Para quem se liga nessas coisas... O filme ganhou o Oscar de melhor produção de 1941, desbancando um tal de Cidadão Kane/Citizen Kane, de Orson Weles...


Antes da revolta do Planeta dos Macacos...

Ficha técnica

Título original: How Green Was My Valley
Ano: 1941
Direção: John Ford
Elenco: Walter Pidgeon (Mr. Gruffydd), Maureen O'Hara (Angharad), Anna Lee (Bronwyn), Donald Crisp (Mr. Morgan), Roddy McDowall (Huw), John Loder (Ianto), Sara Allgood (Mrs. Morgan)
Duração: 1h58min



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Em algum lugar, no meio do deserto...



"Ai se eu te pego" - Pluto, para Michel Teló

Por Sérgio Siscaro

O principal motor dos filmes de terror é o medo do desconhecido. Aquela presença, coisa, entidade ou pessoa que está escondida, você não sabe onde, pronta para destruir seu mundo – revelada pela nítida impressão que alguém está vigiando...
O filme Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes/1977), do então quase iniciante Wes Craven (sim, o “pai” de Freddy Krueger, da franquia A Hora do Pesadelo/A Nightmare on Elm Street), pode ser considerado o precursor da onda de filmes sangue-e-tripas (ou slash movies) do final dos anos 70 e início da década seguinte – junto com outro clássico, O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre/1974). Halloween, Sexta-Feira 13, Dia dos Namorados Macabro, Pague para Entrar, Reze para Sair e, claro, A Hora do Pesadelo, são alguns dos filmes que devem aos canibais degenerados de Papa Jupiter alguma reverência.
É claro que o filme teve uma continuação – e em 1985 saiu Quadrilha de Sádicos 2. Dessa vez, aparecem dois sobreviventes do filme original, embora apenas dois sigam filme adiante. Uma é a ex-integrante do bando de selvagens devoradores de carne humana que salva a parada no final do primeiro longa; o outro é um cachorro – que tem direito, claro, a um flashback com cenas do filme de 1977!!!!
Some-se a esses ingredientes muitos adolescentes (motociclistas radicais!), um ônibus quebrado no meio do deserto e, lógico, a turma de Pluto (que também não morreu no primeiro filme), e voilá! Está pronto mais um sangue-e-tripas tipicamente oitentista. É diversão garantida – apesar de estar a quilômetros e quilômetros de distância do filme original, que é beeeem mais assustador!
Foram feitas refilmagens – tanto do primeiro quanto da continuação – na década passada (traduzidos por aqui como Viagem Maldita e O Retorno dos Malditos). O que prova que as boas ideias (mesmo as boas ideias de filmes toscos) já foram feitas – afinal, também receberam refilmagens O Massacre da Serra Elétrica, Halloween, Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo... Lamentável.
Ficha técnica
Título original: The Hills Have Eyes 2
Ano: 1985
Diretor: Wes Craven
Elenco: Tamara Stafford (Cass), Kevin Spirtas (Roy), John Bloom (The Reaper), Colleen Riley (Jane), Michael Berryman (Pluto), Penny Johnson (Sue), Janus Blythe (Rachel/Ruby), John Laughlin (Hulk), Willard E. Pugh (Foster)
Duração: 1h26min