quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Girassóis da Rússia





Por Ana Lucia Venerando

Minha flor preferida é o girassol. E um dos meus clássicos preferido é Girassóis da Rússia (1970), dirigido pelo italiano Vittorio de Sica. Não que o filme tenha uma grande história. Dramalhão de um chororô só, considerado um dos melhores romances do cimena. Penso que as protagonistas das novelas italianas da Globo fizeram laboratório assistindo Girassóis.
Mas vale por curiosidade de cinéfilo. E sempre é um prazer ver a linda Sophia Loren atuando. Também é válido pela linda fotografia do filme, principalmente quando a atriz vaga por um gigante campo florido de girassóis.
O filme trata do sofrimento das “viúvas” da Segunda Guerra Mundial. Traça um paralelo entre a deterioração das cidades atingidas pelo conflito e a vida das pessoas.
O começo do filme mostra a felicidade do jovem casal Giovanna (Sophia Loren) e Antonio, interpretado por um canastrão Marcelo Mastroianni. Mas a lua de mel logo é interrompida. Antonio vai para o front combater a tropa russa.

Linda hoje e sempre

A guerra acaba. Anos se passam. Giovanna, já com o rosto marcado de rugas de sofrimento, espera dia após dia a chegada do amado. Cada batida na porta é uma decepção. Cansada de esperar, a “mulher de Atenas” resolver ir à luta e viaja dias a fio da Itália até à Rússia para obter alguma informação sobre o paradeiro do marido. Será que ele está vivo? Será que ele foi morto em combate?
Anda por diversos vilarejos carregando nas mãos uma foto de Antonio. Até que encontra uma senhora que indica a casa onde o homem estaria vivendo. Claro que se depara com uma linda jovem russa com quem o maridão formou uma família, com direto a filha e tudo mais.
O silêncio entre as duas é total. Basta a troca de olhares para que as mulheres entendam o que está acontecendo. A esposa russa leva Giovanna até à estação de trem onde Antonio desembarcará após um dia de trabalho. Ao descer do trem, sua atual esposa aponta para Giovanna. Antonio a reconhece e caminha até ela. Mas morrendo de ódio e vergonha, a italiana pula no trem que já está de saída, nem lembrando da pequena valise que carregava com alguns pertences. Aí eu acho que poucos perceberam isso. Como é que alguém saí da então União Soviética para a Itália de mãos vazias – sem nenhum documento? Furo.
Giovanna volta para sua casa e para seu trabalho em uma fábrica de manequins. Aí está a cena mais descontraída da película: Sophia Loren aparece lixando o bumbum de um manequim - na época deve ter tirado gargalhadas das pessoas nas salas de cinema.
Um tempo se passa e Antonio decide procurar Giovanna. Ele quer retomar sua vida com a primeira esposa. Claro que o final não seria feliz. Ela decide manter sua vida – já que agora formou uma nova família. E mais choro – não há lenço que seque tantas lágrimas.
Título original: I Girasolo
Gênero: Romance
Ano da lançamento: 1970
Tempo de Duração: 1h01 min
Direção: Vittorio De Sica
Música: Henry Mancini
Elenco:
Shophia Loren como Giovanna
Marcelo Mastroianni como Antonio
Lyudmila Savelyeva como Mascia

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Super 8 é 10


Luz, Câmera...

Por Ana Lucia Venerando

Adorei Super 8. Assisti-lo foi como entrar em uma máquina do tempo e ver um bom e velho filme de ficção com extraterrestres, dramas familiares e uma gangue de adolescentes, que no início pensam em apenas se divertir. Mas que logo se veem no meio de uma conspiração – tipo governo nega conhecimento. Situação tão bem explorada pelo filme Contatos Imediatos de 3º Grau, de Steven Spielberg, produtor de Super 8. J.J. Abrams, um dos criadores das séries Lost e Fringe, dirige a obra.
A salada de ideias de Spielberg e Abrams resultou em um filme que mistura Contatos.., ET. O Extraterrestre, Goonies, e Lost . Quem não se lembra do monstro da fumaça que sumia com as pessoas na enigmática ilha? Alien – o 8º Passageiro também vem à lembrança, quando finalmente a criatura de Super 8 aparece. Tanto pelas suas características como pela forma de manter suas vítimas indefesas – como se estivessem sendo conservadas em casulos.
Joe (Joel Courtney) é um adolescente que acabou de perder a mãe em um trágico acidente de trabalho e vive com o pai. Um policial sem graça e sem o mínimo jeito para lidar com os próprios sentimentos e muito menos os do seu filho. O garoto encontra conforto com seus amigos. Envolvidos em filmar um super 8 de zumbis, acabam sendo testemunhas de um estranho acidente de trem (a cena é fantástica). E é nessa confusão que Joe se apaixona por Alice, interpretação fantástica de Elle Fanning - irmã mais nova de Dakota Fanning.

I want to believe
A partir daí, muitos mistérios começam a acontecer na cidade – pessoas, aparelhos eletrodomésticos e motores de carro desaparecem. Sem falar na fuga em massa dos cachorros para cidades distantes. Tudo piora quando o exército tenta recuperar a tão enigmática carga que o trem transportava. E, claro, que os milicos resolvem apagar os vestígios do acidente com mão de ferro.
A história se passa lá pelo fim dos anos 70 e a trilha sonora é ótima com direito a Easy (The Commodores) e Heart of Glass (Blondie). Atenção para quando o filme terminar e os letreiros começarem a subir. Aí sim você conhecerá o que é um verdadeiro filme de zumbi, com direito à homenagem a Alfred Hitchcock.
Mas, na verdade, o grande homenageado de Super 8 é o cinema. Tudo nele gira em torno da sétima arte. Toda a trama é conduzida por filmes dentro do filme. Valor de produção.
Ficha Técnica
Nome original: Super 8
Direção: J. J. Abrams
Gênero: Suspense
Duração: 1h52 min
Estreia: 2011
Elenco:
Kyle Chandler como Delegado Jackson Lamb

Joel Courtney como Joe Lamb
Elle Fanning como Alice Dainard
Noah Emmerich como Coronel Nelec
Ron Eldard como Louis Dainard
Bruce Greenwood como Cooper
Riley Griffiths como Charles Kaznyk
Ryan Lee como Carey
Zach Mills como Preston
Josh McFarland como Tom Ashton
Gabriel Basso como Martin
David Gallagher como Donny





segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Há algo estranho nas dobras do real


Super-herói em ação

Por Sérgio Siscaro

A vida imita a arte. Mas e se a ficção puder se infiltrar na realidade, mudando nossas concepções, as regras do que é e o que não é possível? E se os personagens de faz-de-conta que criamos possam literalmente sair da Segunda Dimensão das páginas de livros, histórias em quadrinhos etc e invadirem a nossa Terceira Dimensão?

Corpo Fechado (Unbreakable/2000) joga com essa premissa. Mas de forma sutil, progressiva. Vamos acompanhando os dramas do protagonista David Dunn (reparou no nome aliterado -- como Peter Parker, Bruce Banner, Matt Murdock?), que descobre ter um, oh, super-poder, e seu relacionamento deteriorado com ex-mulher e filho. E conhecemos Elijah Price, um fã de quadrinhos que parece ser o exato oposto de DD: seus ossos se quebram com bastante facilidade, levando-o a ter uma vida à margem.

Ao invés de, sei lá, partir para uma glorificação do pós-humano na nossa sociedade, o filme opta por mostrar, vagarosamente, como a descoberta dessa possibilidade mexe com a cabeça de David Dunn. E leva a uma conclusão inevitável.


"Está tudo aqui!"


Filme muito melhor do que os seguintes feitos por M. Night Shyamalan, que passaria a ser um queridinho da crítica e do público com Sinais e A Vila. E pode ser considerado o precursor do novo interesse de Hollywood por super-heróis.

Ficha técnica

Título original: Unbreakable
Ano de produção: 2000
Diretor: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis (David Dunn), Samuel L. Jackson (Elijah Price), Robin Wright (Audrey Dunn)


"Não!"


Que amizade linda...

Por Sérgio Siscaro

Quando eu era criança, nos distantes Anos Setenta, a Sessão da Tarde costumava reprisar à exaustão a terceira parte da pentalogia O Planeta dos Macacos. Durante décadas foi o único exemplar da série que eu assisti, já que os demais nunca passavam na programação (OK, tinha a série de TV). O que me chamava mais a atenção não eram as "macacadas" de Cornelius e Zira no século 20, ou a maldade previsível dos militares. Mas a história de como o planeta Terra seria, no futuro, dominado pelos nossos outros primos primatas. Cornelius contou para alguém que uma praga havia dizimado todos os cães e gatos; e os humanos decidiram então adotar os macacos como pets, ajudantes, auxiliares, escravos... Até que um dia um deles disse, pela primeira vez, uma palavra.

E ela foi "não".

O recente Planeta dos Macacos: A Origem (odeio esses títulos invertidos! Não poderia ser A Origem do Planeta dos Macacos? Mas não, tem que exibir a franquia direitinho!) tentou permanecer fiel a esse esquema, deixando de lado a refilmagem de O Planeta dos Macacos feita no início da década passada. E, assim como o filme que divertia as Sessões da Tarde d'antanho, tem uma trama simples, e não muito mais que isso. OK, os efeitos são legais (ao invés de atores em fantasias, optaram por uma solução-Gollum, usando inclusive o mesmo ator).

Mas os clichês são de doer. A "fórmula da inteligência" de um cientista que busca curar seu pai. O "santuário" para onde mandam o jovem macaco-gênio é uma casa de torturas. E por aí vai... O final desafia a lógica mais simples, e leva mais açúcar que a fábrica da Nestlé na Suíça...


Vai um desodorante aí?

E as interpretações? James Franco está beeem além do Duende Verde da trilogia Homem-Aranha, e a namoradiha Freida Pinto (a brasileira, acho, Carolina Aranha) parece que foi incluída no roteiro apenas para que as más línguas não insinuassem alguma relação mais íntima entre o homem e seu macaco. Só o véinho Lithgow salva a pátria -- e olha que o personagem dele tem Alzheimer -- e o Cesar, claro, vivido (com efeitos especiais etc) pelo bom e velho Gollum. Vai um my precious aí?

Só uma palavra salva Planeta dos Macacos: A Origem. Uma palavra que traduz a disposição de não deixar as coisas como estão, de fazer a revolução. Uma palavra que mostra que, afinal, o macaco estava certo.

Não.

Ficha técnica:

Título original: Rise of the Planet of the Apes
Ano de produção: 2011
Diretor: Rupert Wyatt
Elenco: Andy Sirkis (Cesar), James Franco (Will Rodman), Freida Pinto (Caroline Aranha), John Lithgow (Charles Rodman)


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Volver




Por Ana Lucia Venerando


Revi Volver, de Pedro Almodóvar. Claro que falar que ele é um mestre no entendimento da alma feminina é chover no molhado. Mas acredito que nenhum outro diretor conseguiu não apenas captar os sentimentos deste complexo mundo mas também transmiti-lo em personagens vividos por grandes atrizes, como Carmen Maura, velha amiga de jornada desde a época em que o cineasta filmava em Super 8 nos anos 70.

Almodóvar tem este dom de entender a psique feminino. Talvez por ter vivido em uma sociedade matriarcal na cidade La Mancha, uma das regiões mais pobres da Espanha e de forte influência religiosa. Onde os homens da cidade iam embora à procura de uma oportunidade de trabalho e deixavam suas mulheres chorando à beira de um ataque de nervos.

Em Volver, a linda Penélope Cruz, depois de alguns anos sem compartilhar o set de filmagem com o amigo, volta como a personagem Raimunda, que junto com a filha adolescente Paula e a irmã Sole (Lola Dueñas), limpam o túmulo dos pais, mortos em um incêndio ocorrido há alguns anos.A vida de Raimunda não é fácil. Trabalha muito e ainda chega em casa e aguenta o marido bêbado, desempregado e tarado. Claro que a história começa a se complicar cada vez mais.

Raimunda encoberta um crime que ela não cometeu. Mas que, de certa forma, irá exorcizar fantasmas do passado. È como se, ao esconder um fato terrível, o seu passado e o das mulheres de sua família viessem à tona. Doloridas recordações e revelações que explicam os motivos de mágoas e desencontros que poderiam ser evitados. Fica principalmente a sensação de como o universo conspira para que a história se repita, daí o nome Volver.

Mas o título do filme também é uma referência à volta não apenas da parceria de Almodóvar com Penélope mas com a grande amiga e musa do cineasta, Carmen Maura, que interpreta a mãe de Raimunda e Sole. É o personagem de Maura, Irene, que nos alerta que existem fantasmas debaixo da cama e que, a qualquer momento, podem nos pegar pelos pés.

Depois de rever este maravilhoso filme, fico agora na espera da estreia do thriller La Piel que Habito (A Pele em que Habito). Desta vez, quem retorna a filmar com Almodóvar é Antonio Banderas, mais um grande ator descoberto pelo diretor. A sua estreia no Brasil está prevista para novembro.


Título original: Volver
Lançamento: 2006 (Espanha)
Direção: Pedro Almodovar
Atores: Penelope Curz, Carmn Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo
Duração: 1h21
Gênero: Drama


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Verde que te quero verde




Por Sérgio Siscaro
(que teria recebido os poderes de Lanterna Verde em estranhas circunstâncias, no Chile; veja imagem)

O recente boom de adaptações de personagens das histórias em quadrinhos para o cinema tem mostrado a dificuldade em se apresentar o protagonista para a plateia que não conhece, digamos, super-heróis das editoras norte-americanas Marvel (X-Men, Homem-Aranha, Hulk, Homem de Ferro, Capitão América, Blade) e DC (Batman, Superman). Não foi diferente com o recente Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) – mas, ao que parece, Hollywood aprendeu uma ou duas coisas.

Ao apresentar o piloto de testes Hal Jordan – que terá a oportunidade de se tornar o integrante de uma tropa intergalática de super-heróis, os Lanternas Verdes – o filme consegue se ater aos pontor principais da narrativa, sem enrolação: do caráter irresponsável do protagonista ao encontro com o alienígena Bin Sur, passando pela apresentação à Tropa no planeta Oa. A ação transcorre de forma fluida, sem ser truncada sobre explicações mais detalhadas sobre a história.

Esta, por sua vez, não é nenhum clássico imortal – das HQs ou da sétima arte. É uma boa Sessão da Tarde, porém, alguns pontos abaixo dos recentes Homem de Ferro e beeeem inferior ao Batman: O Cavaleiro das Trevas. Mas se segura razoavelmente bem, deixando a impressão que pretende seguir a receita-Marvel-de-adaptações-para-o-cinema fielmente. Vamos ver.


Vale principalmente para os não-iniciados conhecerem um personagem básico do universo DC, criado na década de 1950 e que teve algumas de suas histórias iniciais escritas, em regime de ghost-writer, pelo escritor de FC Alfred Bester. Foi ele, aliás, que teria criado o famoso juramento da Tropa dos Lanternas Verdes - bem parecido, aliás, com o juramento feito pelo personagem de sua clássica novela The Stars My Destination (conhecida também como Tiger! Tiger!).

No dia mais claro
Na noite mais densa
Que o mal sucumba perante minha presença!
Quem faz o mal tudo perde
Diante do poder do Lanterna Verde!


Ficha técnica

Título original: Green Lantern
Ano: 2011
Direção: Martin Campbell
Elenco: Ryan Reynolds (Hal Jordan), Blake Lively (Carol Ferris), Peter Sarsgaard (Hector Hammond), Mark Strong (Sinestro), Tim Robbins (senador Hammond), Angela Bassett (Amanda Waller).



Sérgio Siscaro
(que teria recebido os poderes de Lanterna Verde em estranhas circunstâncias, no Chile; veja imagem)