
This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend.
Mr. Scott, em O Homem que Matou o Facínora
Por Sérgio Siscaro
Por Sérgio Siscaro
O que realmente aconteceu na história? A História busca se basear em depoimentos, documentos e mesmo investigações de ciências exatas (como no caso da datação de fósseis) para determinar, na medida do possível, como foi o passado. Em uma escala de tempo menor, essa "versão oficial" dos fatos é aquela divulgada pela imprensa - "se está escrito, é verdade", como diziam os antigos. Esse poder da comunicação deu origem a uma série de distorções, mitos e inverdades que acabaram passando por verdades. Entre a verdade e o mito, publica-se o mito - sempre.
Essa é a linha motriz de um filme que está complentando 50 anos em 2012. Dirigido por John Ford (tratado no último post), O Homem que Matou o Facínora/The Man Who Shot Liberty Valance (1962) é, assim como os clássicos A Montanha dos Sete Abutres/Ace in the Hole (1951) e A Primeira Página/Front Page (1974), uma severa crítica ao processo de mitificação promovido pela mídia - embora, nesse caso, algo involuntária. O filme conta a história de Ransom Stoddard, um senador bem-sucedido que volta à cidadezinha onde sua carreira começou. E aí a narrativa propriamente dita começa, na época em que ele era apenas um advogado do Leste - e que, como tal, cumpre o que se espera dele em um faroeste: é o janota sofisticado e alfabetizado, pouco à vontade com os jeitos rudes da comunidade de pioneiros de fronteira e algo ingênuo.
Ele acaba se indispondo com o valentão local, Liberty Valance (interpretado magistralmente pelo bom e velho Lee Marvin), e o chama para um duelo. É claro que ele seria massacrado pelo vilão, mas vai - um pouco também para impressionar a mocinha Hallie; no entanto, Valance acaba sendo morto por Tom Doniphon (John Wayne, claro!). E, de forma semelhante à usada na novela Roque Santeiro - com sua viúva Porcina, a "que foi sem nunca ter sido" -, todos na cidade pensam que quem livrou a cidade do bandido foi Stoddard.
Detalhe melodramático obrigatório: Doniphon também era apaixonado por Hallie, que preferiu a sofisticação do futuro senador. Assim como em Rastros de Ódio/The Searchers (1956), também de Ford, Wayne é aquele personagem de uma era que foi deixada para trás, e que não encontra lugar no Novo Oeste. E cujo funeral daria o motivo para que Stoddard voltasse à cidade, acompanhado da sra. Stoddard (Hallie, claro), anos depois.
Filmão.
Ficha técnica
Título original: The Man Who Shot Liberty Valance
Ano: 1962
Direção: John Ford
Elenco: James Stewart (Ransom Stoddard), John Wayne (Tom Doniphon), Vera Miles (Hallie Stoddard), Lee Marvin (Liberty Valance), Edmond O'Brien (Dutton Peabody), Andy Devine (delegado Link Appleyard), Ken Murray (Doc Willoughby), John Carradine (major Cassius Starbuckle)
Duração: 2h03min