
Por Ana Lucia Venerando
Quando soube que Pedro Almodóvar voltaria a filmar com Antonio Banderas, fiquei feliz e ansiosa. Adoro quando os dois trabalham juntos. É uma boa oportunidade para Banderas voltar às suas raízes. E o cineasta passa a ter na mãos um ótimo ator e sai um pouco da sua fórmula de ter o universo feminino como o centro de suas tramas.
Não que desta vez as mulheres foram deixadas de lado. Muito pelo contrário. Em A pele que habito, tudo que o Dr.Robert Ledgard (Banderas) deseja e faz gira em torno de fatos ocorridos envolvendo as mulheres mais importantes de sua vida – sua esposa (queimada em um acidente de carro) e sua filha (que se suicida). Marisa Paredes também está lá como a governanta Marília e que guarda um importante segredo.
O filme demora um pouco para cativar. O novelo de lã logo começa a ficar mais cheio de nós e difícil de “desatar”. Aqui vale um recado: prestem atenção em dois momentos. Marisa Paredes faz referência a outras obras de Almodóvar: em um deles é durante uma conversa com o filho quando ela pede: “desata-me”. O outro é quando ela culpa suas “entranhas” por tudo que acontece.
Atenção. Spoilers:

O Dr. Robert Ledgard é um renomado cirurgião plástico em busca não apenas de vingança mas também em recriar sua mulher. Ele está completamente obcecado e usa todos os seus conhecimentos para criar a pele perfeita e resistente a queimaduras.
Logo ele consegue a pessoa perfeita para os seus planos – o jovem Vincent – que passa a ser o instrumento de suas experiências. Também é o alvo de sua ira – já que o rapaz teria tentado violentar a sua filha.Encarcerado na mansão La Cigarral, Vincent também passa pela cirurgia de mudança de sexo. E fica isolado durante anos para que o médico-monstro possa atingir o seu objetivo.
Apesar de Banderas ser o protagonista do filme, é no personagem de Vincent/Vera (Jan Cornet/Elena Anaya) que estão as grandes perturbações do filme. Como em um enredo do escritor Philip K. Dick, o personagem de Vincent deixa a seguinte dúvida: será que a pele que habito é o que me faz ou será que é a minha cabeça que comanda o meu corpo? A história também lembra um pouco Frankenstein. Criador e criatura - ambos com uma ligação emocional doentia e de vingança.
O filme vale ser visto. Agora fica a curiosidade sobre o livro que o inspirou: Mygale, de Thierry Jonquet.
Ficha técnica
Nome original: La Piel que Habito
Diretor: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Blanca Suárez, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Bárbara Lennie, Susi Sánchez
Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado no livro de Thierry Jonquet
Duração: 133 min.
Ano: 2011