domingo, 20 de novembro de 2011

A Pele que Habito: ser ou não ser...



Por Ana Lucia Venerando

Quando soube que Pedro Almodóvar voltaria a filmar com Antonio Banderas, fiquei feliz e ansiosa. Adoro quando os dois trabalham juntos. É uma boa oportunidade para Banderas voltar às suas raízes. E o cineasta passa a ter na mãos um ótimo ator e sai um pouco da sua fórmula de ter o universo feminino como o centro de suas tramas.

Não que desta vez as mulheres foram deixadas de lado. Muito pelo contrário. Em A pele que habito, tudo que o Dr.Robert Ledgard (Banderas) deseja e faz gira em torno de fatos ocorridos envolvendo as mulheres mais importantes de sua vida – sua esposa (queimada em um acidente de carro) e sua filha (que se suicida). Marisa Paredes também está lá como a governanta Marília e que guarda um importante segredo.

O filme demora um pouco para cativar. O novelo de lã logo começa a ficar mais cheio de nós e difícil de “desatar”. Aqui vale um recado: prestem atenção em dois momentos. Marisa Paredes faz referência a outras obras de Almodóvar: em um deles é durante uma conversa com o filho quando ela pede: “desata-me”. O outro é quando ela culpa suas “entranhas” por tudo que acontece.

Atenção. Spoilers:





O Dr. Robert Ledgard é um renomado cirurgião plástico em busca não apenas de vingança mas também em recriar sua mulher. Ele está completamente obcecado e usa todos os seus conhecimentos para criar a pele perfeita e resistente a queimaduras.

Logo ele consegue a pessoa perfeita para os seus planos – o jovem Vincent – que passa a ser o instrumento de suas experiências. Também é o alvo de sua ira – já que o rapaz teria tentado violentar a sua filha.Encarcerado na mansão La Cigarral, Vincent também passa pela cirurgia de mudança de sexo. E fica isolado durante anos para que o médico-monstro possa atingir o seu objetivo.

Apesar de Banderas ser o protagonista do filme, é no personagem de Vincent/Vera (Jan Cornet/Elena Anaya) que estão as grandes perturbações do filme. Como em um enredo do escritor Philip K. Dick, o personagem de Vincent deixa a seguinte dúvida: será que a pele que habito é o que me faz ou será que é a minha cabeça que comanda o meu corpo? A história também lembra um pouco Frankenstein. Criador e criatura - ambos com uma ligação emocional doentia e de vingança.

O filme vale ser visto. Agora fica a curiosidade sobre o livro que o inspirou: Mygale, de Thierry Jonquet.


Ficha técnica
Nome original: La Piel que Habito
Diretor: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Blanca Suárez, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Bárbara Lennie, Susi Sánchez
Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado no livro de Thierry Jonquet
Duração: 133 min.
Ano: 2011


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles



Por Ana Lucia Venerando

Explosão atrás de explosão e sem nenhuma história. Se você está a fim de gastar seu tempo com um filme assim, assista Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles. E com uma receita tão comum em Hollywood – como os norte-americanos são altruístas e salvadores do planeta.

Desta vez, os marines têm pela frente um inimigo desconhecido que está invadindo e acabando com várias cidades ao redor do mundo. Uma delas é Los Angeles. Os jovens combatentes são orientados pelo sargento-assistente Nantz, interpretado pelo ótimo ator Aaron Eckhart (o Duas-Caras de Batman – o Cavaleiro das Trevas). Neste filme, Eckhart faz o típico militar que está louco para se aposentar mas que antes tem pela frente o último desafio de sua carreira.

O início do filme é uma sequência interminável de apresentações dos personagens. Tempo perdido já que nenhuma de suas histórias têm grande relevância para a trama, que é completamente nula.

A missão do grupo é a de resgatar alguns civis presos em uma delegacia de polícia, localizada em uma área prestes a ser bombardeada pelas forças militares norte-americanas na tentativa de eliminar o grande inimigo – alienígenas em busca de água (muito original!!). Os seres lembram vagamente, muito vagamente, os cilônios da série Battlestar Galactica.

Os marines tentam cumprir sua missão, porém ficam cada vez mais encurralados. Muitos morrem heroicamente.Claro que, aqueles que sobraram, saem vitoriosos e colocarão a nave-mãe para correr ou, melhor, voar.

Como já falei no início do texto, e me dando o direito de ser tão redundante quanto ao filme, a história é uma grande exaltação aos fuzileiros e um exagero patriótico.

Ficha Técnica:
Título original: Battle: Los Angeles
Ano: 2011
Direção: Jonathan Liebesman
Duração: 116 minutos
Elenco: Aaron Eckhart, Michelle Rodrigues, Ramón Rodrígues, Bridget Moynahan Ne-yo, Michael Peña


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Detetive do sobrenatural


Ei, que foi?

Por Sérgio Siscaro

John Constantine e Dylan Dog são dois personagens dos quadrinhos que têm vários pontos em comum. Ambos têm um jeitão cool, lidam com o sobrenatural, tiveram suas revistas lançadas inicialmente em 1986 (embora Constantine tenha aparecido anteriormente em histórias do Monstro do Pântano), usam “uniformes informais” (o sobretudo de Constantine e a camisa vermelha com blazer preto de Dylan) e tiveram seus traços inspirados por pessoas reais (o cantor Sting no primeiro caso, e o ator Ruppert Everett no segundo). Mas a semelhança que interessa agora é a de que ambos foram adaptados ao cinema em produções razoáveis, a la Sessão da Tarde, mas que desprezaram completamente as características originais dos personagens.

Deixando o filme Constantine (feito em 2005, com direção de Francis Lawrence e a participação do inexpressivo Keanu Reeves no papel principal) para um outro dia, vamos falar de Dylan Dog, que teve o filme Dylan Dog: Criaturas da Noite (Dylan Dog: Dead of the Night) lançada no ano passado, com direção de Kevin Munroe (de As Tartarugas Ninjas – O Retorno/TMNT, de 2007).

A premissa inicial é interessante (apesar de ser um clichezão homérico). Dylan, vivido pelo ator Brandon Routh (mais conhecido por Superman: O Retorno/Superman Returns, aquela bomba de 2006, e pelo seriado Chuck), se afastou da nevoenta Londres, perdeu seu parceiro Groucho e seu amor Cassandra, e virou um detetive de casos de infidelidade conjungal em New Orleans. O desenrolar dos acontecimentos vai, claro, trazê-lo de volta ao mundo sobrenatural – com direito a um novo parceiro, Marcus (vivido por Sam Huntington, que participa da versão norte-americana do seriado de terror Being Human), um zumbi relutante.


Discussão à meia-noite no cemitério

O filme busca unir o terror soft de Hollywood a um humor pré-adolescente – um recuo com relação aos quadrinhos, nos quais as gargalhadas são garantidas, principalmente, pelo aloucado assistente Grouxo. A trama do filme também é beeem esquemática; dá para adivinhar sem problemas o que vai acontecer. Mas distrai – é mesmo uma Sessão da Tarde, em suma.

Mas tem seus momentos. Referências ao criador do personagem nos quadrinhos, Tiziano Sclavi; algumas nojeiras (bem soft, ninguém vai vomitar) que são um distante eco dos bons e velhos filmes de zumbis etc do cinema italiano dos anos 70/80; e, apesar dos desvios do original, uma certa fidelidade em detalhes (como o indefectível “arremesso de revólver”, antes praticado por Groucho, agora pelo novo assistente zumbi). E algumas piadinhas interessantes, como o grupo de autoajuda dos mortos-vivos.




O original

Vale lembrar que o filme que melhor traduziu o clima de Dylan Dog para o cinema foi a produção europeia Dellamorte Dellamore (1994). Dirigido por Michele Soavi (dos clássicos ) e com participação de Sclavi no argumento, o filme traz a atmosfera de absurdo e de comédia dos quadrinhos originais – e, apesar da diferença nas carreiras profissionais dos protagonistas (enquanto Dylan é detetive, Dellamore é coveiro), pode ser considerada uma adaptação mais fiel do que Dylan Dog: Criaturas da Noite.

Ficha técnica

Título original: Dylan Dog: Dead of the Night
Ano: 2010
Direção: Kevin Munroe
Elenco: Brandon Routh (Dylan Dog), Anita Briem (Elizabeth), Sam Huntington (Marcus), Taye Diggs (Vargas), Kurt Angle (Wolfgang), Peter Stormare (Gabriel).