Por Sérgio Siscaro
Um dos pontos mais importantes que deve ser respeitado em filmes históricos é a reconstrução fiel (ao menos no que se refere ao conhecimento atual) do passado. Nas últimas décadas, Hollywood tem levado à telona super-produções que buscam reconstituir minuciosamente os figurinos, a arquitetura e os hábitos de povos antigos – ainda que a sua reconstituição psicológica ainda seja subordinada aos roteiros convencionais e ao desejo de colocar frases, modos de pensar e de viver atuais em pessoas de séculos atrás, mais ou menos sutilmente.
E como eram feitos antes esses filmes? Ora, eles basicamente transformavam o passado em um parque temático, no qual atores e atrizes tipicamente norte-americanos encarnavam egípicios, vikings, índios ou samurais sem o menor pudor. A ideologia desses filmes era sempre a mesma: o mocinho se dava bem no final ao conquistar a mocinha e as graças da nobreza. Vistas hoje, essas produções – que nem sempre se levavam muito a sério – são autênticas comédias.
Uma delas é A Espada de Damasco (The Golden Blade), de 1953, dirigida por Nathan Juran – o mesmo de Simbad e a Princesa (The 7th Voyage of Sinbad/1958), e de alguns episódios da série de TV O Túnel do Tempo (The Time Tunnel), na década de 60. O filme era, basicamente, um veículo de promoção do então jovem ator Rock Hudson, que interpreta o valente Harun em uma Bagdá de As Mil e Uma Noites misturada com Camelot. Ele acaba encontrando a mítica espada de Damasco, que confere a seu detentor o poder político – ou seja, um trono – caso ele seja digno de tal.
Os ecos de da história de Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda são ensurdecedores; não falta nem mesmo o episódio de se retirar a espada da pedra! Um autêntico A Espada era a Lei (o desenho da disney The Sword in the Stone/1963), feito uma década antes! Claro que, no final, Harun fica com a mocinha Khairuzan – interpretada por Piper Laurie, que, quase um quarto de século depois, faria a tresloucada Margaret White, mãe da protagonista em Carrie, a Estranha (Carrie/1977).
Os anacronismos, clichês e absurdos são um espetáculo à parte – e vão gerar um sorriso de qualquer um que tenha assistido a algum episódio “épico” de O Túnel do Tempo. Das placas e inscrições escritas em inglês ao mágico chinês da corte do califa, passando pelo torneio medieval (com trajes europeus!) e à canastronice do elenco (nesse quesito, Hudson se destaca), A Espada de Damasco pode ser vista como uma espécie de “atração-vovó” da Sessão da Tarde.
Ficha técnica
Título original: The Golden Blade
Ano de lançamento: 1953
Direção: Nathan Juran
Elenco: Rock Hudson (Harun), Piper Laurie (Khairuzan), Gene Evans (Hadi), George Macready (Jafar), Kathleen Hughes (Bakhamra), Steven Geray (Barcus), Edgar Barrier (o califa)