Because
something is happening here
But you
don't know what it is
Do you, Mister Jones ?
Bob Dylan
Por Sérgio Siscaro
Na história, os momentos de transição oferecem uma excelente matéria prima para adaptações cinematográficas. Por essa razão, a coexistência nem sempre pacífica entre o velho e o novo, entre a tradição e a modernidade, inspirou vários roteiristas que levaram esses conflitos para as telonas. O Último Samurai (2003), de Edward Zwick (de Tempo de Glória, Nova York Sitiada, Diamante de Sangue, Um Ato de Liberdade), se insere nessa tradição.
No caso desse filme, o momento de transição é o início da Restauração
Meiji no Japão – quando o imperador passou a concentrar poderes antes nas mãos
do xogunato, ao mesmo tempo em que deixou a política isolacionista do país para
trás e começou a ir atrás de ideias ocidentais para se modernizar. Esse
processo foi bem-sucedido, ao menos do ponto de vista material: no início do
século XX, o Japão já vencia uma potência como a Rússia czarista nos campos de
balhata.
Mas O Último Samurai não é sobre as consequências de longo
prazo das reformas, mas sobre seu impacto imediato – ou seja, o fim de um mundo
marcado pelo domínio do xogum e dos senhores de terras, que tinham apoio na
classe dos samurais. O capitão norte-americano Nathan Algren (Tom Cruise), veterano da
Guerra da Secessão e traumatizado pelas campanhas de extermínio promovidas por
Washington contra os índios, vai ao Japão atuar como consultor militar do
imperador.
Ao chegar no Império do Sol Nascente, a prioridade de Algren
é a de preparar o exército japonês, que seguia os moldes ocidentais, a
enfrentar os últimos bolsões de resistência dos samurais. Essa oposição ao
regime foi personificada no filme pelo líder samurai Katsumoto (Ken Watanabe,
de Batman Begins, Cartas de Iwo Jima, A Origem) – que irá convencer o capitão Algren
de que valores como honra a uma causa ainda são importantes.
O filme de Zwick segue o esperado tradicionalismo das
produções hollywoodianas: é didático e linear, tem personagens simplificados (o
bom, o mau, o honrado, o aproveitador), os conflitos sociais e econômicos são
varridos para debaixo do tapete etc. Além disso é uma história de redenção, com
um inevitável happy ending! E talvez não poderia ser diferente, dado o status de
O Último Samurai como uma produção cara, cujo protagonista principal era o ator
Tom Cruise.
Apesar desses defeitos, O Último Samurai tem claros méritos.
Apresenta à audiência um pedaço da história que não é muito conhecido no
Ocidente; reúne um conjunto muito bom de atores, destacando-se Cruise, Watanabe
e mesmo alguns dos coadjuvantes, como o samurai Ujio (Hiroyuki Sanada, de Ring:
O Chamado e da série de TV Lost), que tem pouquíssimas falas no filme. As cenas
de luta são bem coreografadas, e a fotografia não é nada má. Mas poderia ousar
mais.
Ficha técnica
Título original: The Last Samurai
Ano: 2003
Direção: Edward
Elenco: Tom Cruise (capitão Algren), Ken Watanabe
(Katsumoto), Tony Goldwyn (coronel Bagley), Timothy Spall (Simon Graham),
Hiroyuki Sanada (Ujio)
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