Saiba, ó Príncipe
Que entre os anos em que os oceanos tragaram Atlântida
E os anos em que se levantaram os filhos de Aryas
Houve uma era inimaginável...
Por Sérgio Siscaro
O grande problemas de Conan, o Bárbaro (2011) é o fato de que, no lugar de ter aproveitado a oportunidade histórica - sim, histórica - de trazer às telas um filme fiel à obra do escritor texano Robert E. Howard (1906-1936), se contentou em ser uma espécie de pastiche do filme Conan, o Bárbaro / Conan the Barbarian (1982), que catapultou a carreira do austríaco Arnold Schwarzenegger (e deu ao mundo duas sequências horríveis, Conan, o Destruidor / Conan the Destroyer, de 1984, e Guerreiros de Fogo / Red Sonja, de 1985 - esta uma sequência não-oficial).
Nada contra o filme de 1982 - mas ele tem pouquíssimo a ver com o heroi criado nos pulp magazines da década de 1930, e cuja popularidade se expandiu nas décadas de 1960 e 1970 graças ao relançamento de seus contos em livros de bolso e às adaptações da Marvel para os quadrinhos. A nova versão seria uma ótima oportunidade de se aproveitar os elementos existentes na obra original para se criar algo diferente - afinal, ao contrário da versão popular, o Conan dos pulps não era um armário brutamontes, mas um arguto estrategista. Forte, sim, mas também inteligente.
O ator escolhido, Jason Momoa (da série de TV A Guerra dos Tronos) não compromete o filme; o grande problema é o roteiro. NOvamente foi dado foco a uma questão de vingança (a tribo de Conan morta quando ele é criancinha etc), ao invés de se buscar nos contos de Howard histórias legais. Que filmes não sairiam de contos como A Torre do Elefante, A Hora do Dragão e A Rainha da Costa Negra?
Além de derivativa, a trama parece não ir a lugar nenhum, preocupando-se com um vilão de opereta e deixando vários buracos na narrativa. Há cenas que não servem para nada, a não ser como acompanhamento às pipocas derramadas no chão dos cinemas em um verão qualquer.
A obra de Howard teve, contudo, uma adaptação que quase chegou lá. Salomão Kane: O Caçador de Demônios / Solomon Kane (2009) pelo menos apresentou o personagem e suas motivações - embora de forma exagerada, dando a impressão de que o filme era apenas uma prequel antes que uma saga propriamente dita começasse. Mas pelo menos o roteiro tinha uma direção, e os monstros eram legais! Kull, o Conquistador / Kull (1997) não foi um grande filme, mas também não era tão constragedor quanto este Conan – e olha que tinha o inexpressivo Kevin Sorbo (da série de TV Hércules) como o rei atlante da Valúsia!
Como Conan, o Bárbaro também não foi nenhum sucesso de bilheteria, a franquia deve ficar enterrada mais uns anos. Mais sorte na próxima vez? Quem sabe...
Ficha técnica
Título original: Conan the Barbarian
Ano: 2011
Direção: Marcus Nispel
Elenco: Jason Momoa (Conan), Stephen Lang (Khalar Zym), Rachel Nichols (Tamara), Ron Perlman (Corin), Rose McGowan (Marique)
Duração: 113 minutos (mas parece uma eternidade!)