terça-feira, 2 de outubro de 2012

Que barbaridade!


Saiba, ó Príncipe
Que entre os anos em que os oceanos tragaram Atlântida
E os anos em que se levantaram os filhos de Aryas
Houve uma era inimaginável...


Por Sérgio Siscaro

  

O grande problemas de Conan, o Bárbaro (2011) é o fato de que, no lugar de ter aproveitado a oportunidade histórica - sim, histórica - de trazer às telas um filme fiel à obra do escritor texano Robert E. Howard (1906-1936), se contentou em ser uma espécie de pastiche do filme Conan, o Bárbaro / Conan the Barbarian (1982), que catapultou a carreira do austríaco Arnold Schwarzenegger (e deu ao mundo duas sequências horríveis, Conan, o Destruidor / Conan the Destroyer, de 1984, e Guerreiros de Fogo / Red Sonja, de 1985 - esta uma sequência não-oficial). 

Nada contra o filme de 1982 - mas ele tem pouquíssimo a ver com o heroi criado nos pulp magazines da década de 1930, e cuja popularidade se expandiu nas décadas de 1960 e 1970 graças ao relançamento de seus contos em livros de bolso e às adaptações da Marvel para os quadrinhos. A nova versão seria uma ótima oportunidade de se aproveitar os elementos existentes na obra original para se criar algo diferente - afinal, ao contrário da versão popular, o Conan dos pulps não era um armário brutamontes, mas um arguto estrategista. Forte, sim, mas também inteligente. 

O ator escolhido, Jason Momoa (da série de TV A Guerra dos Tronos) não compromete o filme; o grande problema é o roteiro. NOvamente foi dado foco a uma questão de vingança (a tribo de Conan morta quando ele é criancinha etc), ao invés de se buscar nos contos de Howard histórias legais. Que filmes não sairiam de contos como A Torre do Elefante, A Hora do Dragão e A Rainha da Costa Negra

Além de derivativa, a trama parece não ir a lugar nenhum, preocupando-se com um vilão de opereta e deixando vários buracos na narrativa. Há cenas que não servem para nada, a não ser como acompanhamento às pipocas derramadas no chão dos cinemas em um verão qualquer. 

A obra de Howard teve, contudo, uma adaptação que quase chegou lá. Salomão Kane: O Caçador de Demônios / Solomon Kane (2009) pelo menos apresentou o personagem e suas motivações - embora de forma exagerada, dando a impressão de que o filme era apenas uma prequel antes que uma saga propriamente dita começasse. Mas pelo menos o roteiro tinha uma direção, e os monstros eram legais! Kull, o Conquistador / Kull (1997) não foi um grande filme, mas também não era tão constragedor quanto este Conan – e olha que tinha o inexpressivo Kevin Sorbo (da série de TV Hércules) como o rei atlante da Valúsia! 

Como Conan, o Bárbaro também não foi nenhum sucesso de bilheteria, a franquia deve ficar enterrada mais uns anos. Mais sorte na próxima vez? Quem sabe...

Ficha técnica

Título original: Conan the Barbarian
Ano: 2011
Direção: Marcus Nispel
Elenco: Jason Momoa (Conan), Stephen Lang (Khalar Zym), Rachel Nichols (Tamara), Ron Perlman (Corin), Rose McGowan (Marique)
Duração: 113 minutos (mas parece uma eternidade!)



Pânico e as continuações


Por Sérgio Siscaro

Continuações podem ser uma praga. Na verdade, geralmente são. Significam uma falta de ideias por parte dos estúdios, a vontade de arrecadar mais dinheiro em cima de bilheterias bem-sucedidas, e acabam diluindo o filme original. Foi tendo isso em mente que a continuação da franquia de terror Pânico, lançada em 1997, usou essas expectativas para jogar com os espectadores. 

Logo no início do filme, que dá sequência aos violentos ataques do assassino serial Ghostface, uma turma universitária discute o mérito (ou falta dele) das continuações. Claro que os exemplos clássicos de sequências bem-sucedidas foram citados – O Poderoso Chefão 2 (The Godfather 2, 1974) e O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back). E mesmo casos que já foram vistos de forma mais positiva, como Aliens, de 1986 (que estragou o clima de terror de Alien com toneladas de ação) e O Exterminador do Futuro 2 (Terminator 2: Judgement Day, 1991).

Voltando a Pânico 2. O diretor Wes Craven usa conscientemente os dados que os espectadores têm (e os personagens), a respeito do que aconteceu no filme anterior, para redirecionar a trama e apresentar um final surpreendente. E mostra a ação do tempo sobre os personagens - o que inclui desde a chegada de uma repórter arrivista disputando os holofotes com a sensacionalista Gale Weathers, até os temores de que a história sempre se repete. 

Assim como no primeiro filme, a sequência inicial traz um assassinato cruel - mas, desta vez, ele acontece como decorrência direta dos acontecimentos anteriores, já que ocorre na pré-estreia do filme Stab - que seria a versão fictícia de Pânico em seu universo que já é fictício! Metaficção no cinema slasher? Pode apostar!

Ficha técnica

Título original: Scream 2
Ano: 1997
Diretor: Wes Craven
Elenco: Neve Campbell (Sidney Prescott), Courteney Cox (Gale Weathers), David Arquette (Dewey Riley), Jamie Kennedy (Randy Meeks) e Liev Schreiber (Cotton)
Duração: 120 minutos