quinta-feira, 3 de maio de 2012

Adaptações & assombrações

Yo no creo en las brujas.
Pero que las hay, las hay!
Adágio espanhol


Por Sérgio Siscaro

Uma forma de se avaliar se um filme que adapta uma obra literária foi bem-sucedido é ver o quanto ele foi fiel ao livro, HQ ou o que seja - e de que forma o diretor ou roteirista conseguiu transpor para a tela o que nem sempre é facilmente traduzível na transição de um meio para o outro. A Casa da Noite Eterna (The Legend of Hell House/1973), que traz ao cinema a novela Hell House de Richard Matheson (o mesmo de Eu Sou a Lenda e Encurralado, entre tantos outros), é um exemplo de como a fidelidade à letra e ao espírito da obra original nem sempre bastam. Afinal, esta pode ter seus problemas.



Dirigido por John Hough, o filme conta a história de um grupo de especialistas em fenômenos paranormais que vai a uma casa mal-assombrada, a Mansão Belasco, para descobrir porque ela é assim - e "exorcizá-la". Há o cientista, que explica tudo como energias residuais (e que pretende resolver o problema com uma máquina), e sua assistente; a médium espiritual; e um médium físico, o único sobrevivente da última experiência semelhante feita na casa, há vinte anos.

A trama é inteligente, e o filme consegue captar bem as mudanças de comportamento dos personagens, suas desconfianças mútuas e o mistério - afinal, o que há na casa? Entidades que possuem as pessoas ou uma atmosfera que libera seus lados mais obscuros? Nesse ponto, a história guarda bastante semelhança com o livro A Assombração na Casa Da Colina, de  Shirley Jackson, que também foi adaptado para a telona, com Desafio ao Além (The Haunting/1963). O problema é que o final, tanto o livro de Matheson quanto o filme de Hough não sustentam as expectativas e o clima da obra (não, não vou contar). Se não fosse isso, ambos seriam clássicos!

Vale ressaltar a ótima performance de Roddy McDowall (sim, o Cornelius de O Planeta dos Macacos), que interpretou o sobrevivente Franklin Fischer, sempre à beira de um ataque de nervos; e da igualmente perturbada Florence Tanner, vivida por Pamela Franklin.


Ficha técnica

Título original: The Legend of Hell House
Ano: 1973
Diretor: John Hough
Elenco: Pamela Franklin (Florence Tanner), Roddy McDowall (Benjamin Franklin Fischer), Clive Revill (Dr. Barrett), Gayle Hunnicutt (Ann Barrett), Roland Culver (Mr. Deutsch), Peter Bowles (Hanley)
Duração: 1h35min


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Eu acredito em trolls!

"I want to believe"
Pôster no escritório de Fox Mulder, na série Arquivo X

Quem disse que o cinema escandinavo se resume a Ingmar Bergman?

Por Sérgio Siscaro

Desde que foi lançado o filme A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project/1999), a ideia de se ter uma trama filmada "como se fosse real", a fim de reforçar o bom e velho argumento do "baseado em fatos reais", proliferou – embora não tenha atingido o grau de tensão da produção original. As produções da série Atividade Paranormal, por exemplo, acabam sendo fraquinhas, apesar de seguirem essa receita. Não é o que acontece com O Caçador de Troll (Trolljegeren/2010), produção norueguesa ainda inédita aqui no Brasil.


O filme é uma espécie de paródia/homenagem à A Bruxa de Blair, e acompanha uma equipe de TV de uma universidade, que busca descobrir por quê tantos ursos estão morrendo... Logo eles se deparam com um misterioso caçador – de trolls! Sim, aqueles monstrengos gigantes da mitologia europeia, de formatos variados, e que viram pedra quando expostos à luz do sol!

O absurdo da proposta fica mais bizarro com o uso do recurso da câmera – e um pouco de Arquivo X, com aquele argumento de que "existem coisas que não querem que as pessoas saibam". E tentam convencer os espectadores que aquilo – e é beeem bizarro – é real! Por essa razão, o filme se torna hilário, de rolar de rir! E sem ceder às trasheiras (que também são legais) de efeitos toscos e interpretações idem. O filme mantém seu foco até o final, sem deixar cair a peteca. E a trilha sonora, incidental (afinal, são teoricamente gravações autênticas), é bem legal. Um exemplo é a música "Mjød", que aparece nos créditos finais, da banda pesada norueguesa Kvelertak.

Atenção para o momento hilário: o caçador preenchendo um formulário sobre os seres que vem caçando...

Ficha técnica

Título original: Trolljegeren
Ano: 2010
Diretor: André Øvredal
Elenco: Otto Jespersen (Hans), Glenn Erland Tosterud (Thomas), Johanna Mørck (Johanna), Tomas Alf Larsen (Kalle), Urmila Berg-Domaas (Malica), Hans Morten Hansen (Finn Haugen)
Duração: 1h43min