segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Espadas flamejantes do Oriente








Por Sérgio Siscaro

O instrumento da vingança volta a caminhar nas trilhas dos trópicos. Finalmente estão disponíveis as seis adaptações para o cinema da saga do Lobo Solitário – um dos quadrinhos japoneses mais importantes e viscerais (e bota vísceras nisso!). A resenha de hoje será focada na quarta produção da franquia, Lobo Solitário: Coração de Pai, Coração de Filho (Kozure Okami: Oya no kokoro ko no kokoro), de 1972, dirigido por Takeichi Saitô, que mais tarde também participaria da produção de alguns episódios da série para a TV.

Ogami, prestes a enfrentar alguns ninjas
Mas antes, um pouco de contexto. Criada em 1970 para os mangás destinados a jovens garotos pelo escritor Kazuo Koike e pelo desenhista Goseki Kojima, a série Lobo Solitário se passada no Japão feudal, durante o regime do xogunato Tokugawa. A trama especificamente ocorre em algum momento do século XVIII. Ito Ogami é o kogi kaishakunin do xogum – ou seja, o samurai especializado em decepar as cabeças dos inimigos do Estado quanto estes cometem o seppuku, ou harakiri. Uma disputa pelo poder leva o clã rival dos Yagyu armar uma emboscada a Ogami, o que lhe custa a vida de sua esposa e a desgraça de seu nome. Ele passa então a vagar pelo Japão como um assassino profissional, acompanhado apenas de seu filho pequeno, Daigoro. Além de exímio espadachim, Ogami conta com um carrinho de bebê com lâminas e uma metralhadora escondidas – o que cai muito bem, já que seus oponentes não lhe dão trégua. Nos quadrinhos, a sanguinolência dos combates é sempre pontuada pela filosofia oriental – mesmo a de Ogami, que decidiu renegar os deuses e seguir o caminho do inferno xintoísta.

Quem será a próxima vítima?
Lobo Solitário: Coração de Pai, Coração de Filho adapta e combina algumas histórias da saga em quadrinhos. Ogami é contratado para matar Oyuki, uma temível assassina tatuada, e nesse meio tempo se depara com Gunbei Yagyu – filho renegado de Retsudo Yagyu, arquiinimigo de Ogami. Foi justamente Gunbei que disputou com Ogami o posto de kogi kaishakunin, e perdeu; por essa razão, seu pai o expulsou em desgraça. Há momentos de combate generalizado, claro, mas também uma simetria entre as histórias de pai e filho entre Ogami e Daigoro e entre a assassina Oyuki e seu pai.

Apesar dos efeitos especiais durante as lutas serem hoje vistos como peculiares, a trama é bem amarrada, alternando picos de ação com períodos de calmaria. Apesar de toda a história de fundo, é possível assistir sem ficar perdido na trama – pode-se dizer que há até uma certo excesso de flashbacks, mas não chegam a comprometer o fluir da história. Se você gosta de filmes de samurai, ou de ação em geral, e achou Kill Bill legal, Lobo Solitário: Coração de Pai, Coração de Filho é uma boa pedida! Após ter colocado nas pratelerias a caixa com os seis filmes da série, uma dica para a distribuidora Versátil: lance também o seriado de TV!


Ficha técnica:

Título original: Kozure Okami: Oya no kokoro ko no kokoro
Ano: 1972
Diretor: Takeichi Saitô
Elenco: Tomisaburô Wakayama (Itto Ogami), Yoichi Hayashi (Gunbei Yagyu), Michi Azuma (Oyuki), Akihiro Tomikawa (Daigoro), Tatsuo Endô(Retsudo Yagyu)
Duração: 81 minutos