
Por Sérgio Siscaro
O instrumento da vingança volta a caminhar nas trilhas dos trópicos. Finalmente estão disponíveis as seis adaptações para o cinema da saga do Lobo Solitário – um dos quadrinhos japoneses mais importantes e viscerais (e bota vísceras nisso!). A resenha de hoje será focada na quarta produção da franquia, Lobo Solitário: Coração de Pai, Coração de Filho (Kozure Okami: Oya no kokoro ko no kokoro), de 1972, dirigido por Takeichi Saitô, que mais tarde também participaria da produção de alguns episódios da série para a TV.
![]() |
Ogami, prestes a enfrentar alguns ninjas |
Mas antes, um pouco de contexto. Criada em 1970 para os mangás
destinados a jovens garotos pelo escritor Kazuo Koike e pelo desenhista Goseki Kojima, a série Lobo Solitário se passada no Japão
feudal, durante o regime do xogunato Tokugawa. A trama especificamente ocorre em
algum momento do século XVIII. Ito Ogami é o kogi kaishakunin do xogum – ou seja,
o samurai especializado em decepar as cabeças dos inimigos do Estado quanto
estes cometem o seppuku, ou harakiri. Uma disputa pelo poder leva o clã rival
dos Yagyu armar uma emboscada a Ogami, o que lhe custa a vida de sua esposa e a
desgraça de seu nome. Ele passa então a vagar pelo Japão como um assassino
profissional, acompanhado apenas de seu filho pequeno, Daigoro. Além de exímio
espadachim, Ogami conta com um carrinho de bebê com lâminas e uma metralhadora
escondidas – o que cai muito bem, já que seus oponentes não lhe dão trégua. Nos
quadrinhos, a sanguinolência dos combates é sempre pontuada pela filosofia
oriental – mesmo a de Ogami, que decidiu renegar os deuses e seguir o caminho
do inferno xintoísta.
![]() |
Quem será a próxima vítima? |
Lobo Solitário: Coração de Pai, Coração de Filho adapta e
combina algumas histórias da saga em quadrinhos. Ogami é contratado para matar
Oyuki, uma temível assassina tatuada, e nesse meio tempo se depara com Gunbei
Yagyu – filho renegado de Retsudo Yagyu, arquiinimigo de Ogami. Foi justamente
Gunbei que disputou com Ogami o posto de kogi kaishakunin, e perdeu; por essa
razão, seu pai o expulsou em desgraça. Há momentos de combate generalizado,
claro, mas também uma simetria entre as histórias de pai e filho entre Ogami e
Daigoro e entre a assassina Oyuki e seu pai.
Apesar dos efeitos especiais durante as lutas serem hoje
vistos como peculiares, a trama é bem amarrada, alternando picos de ação com
períodos de calmaria. Apesar de toda a história de fundo, é possível assistir
sem ficar perdido na trama – pode-se dizer que há até uma certo excesso de
flashbacks, mas não chegam a comprometer o fluir da história. Se você gosta de
filmes de samurai, ou de ação em geral, e achou Kill Bill legal, Lobo
Solitário: Coração de Pai, Coração de Filho é uma boa pedida! Após ter colocado
nas pratelerias a caixa com os seis filmes da série, uma dica para a
distribuidora Versátil: lance também o seriado de TV!
Ficha técnica:
Título original: Kozure Okami: Oya no kokoro ko no kokoro
Ano: 1972
Diretor: Takeichi Saitô
Elenco: Tomisaburô Wakayama (Itto Ogami), Yoichi Hayashi (Gunbei Yagyu),
Michi Azuma (Oyuki), Akihiro Tomikawa (Daigoro), Tatsuo Endô(Retsudo Yagyu)
Duração: 81 minutos