terça-feira, 26 de julho de 2011

Contra o fanatismo


Por Sérgio Siscaro

Em tempos de fanatismo religioso, como o que recentemente motivou os assassinatos na Noruega, é sempre bom dar uma conferida no que a sétima arte tem a dizer sobre o assunto. Um exemplo recente, mas que passou batido aqui no Brasil, é o filme espanhol (mas falado em inglês) Alexandria (Agora/2009). Estrelado por Rachel Weisz (de O Jardineiro Fiel e Constantine), a trama conta a história real de Hipatia, filósofa da Antiguidade que buscava entender os movimentos planetários na mítica Biblioteca de Alexandria, no Egito - então província do Império Romano.

O eixo principal do filme é o conflito entre a ignorância dos fanáticos – no caso, os cristãos, recentemente colocados em posição de destaque no Império Romano após a conversão de Constantino – e as tentativas de se fazer algo parecido com ciência naqueles tempos remotos. A história, claro, seguiu o curso que se espera quando se lida com paixões tão básicas do ser humano: Hipatia foi morta a mando do bispo Cirilo. Ela foi esquecida por séculos; ele virou santo da Igreja Católica.

A produção tenta se manter longe das convenções típicas do cinema norte-americano – mesmo tendo uma certa "história de amor não-correspondido" correndo de forma paralela. No geral, esse objetivo é bem-sucedido, e faz da obra uma pequena joia escondida. Uma sacada bem interessante é a contraposição dos massacres, mortes e misérias humanos com imagens da Terra no espaço – que têm a ver com a busca de Hipatia pelo mecanismo de movimentos celestes, e também coloca em perspectiva todas as grandes ideias, causas e dores da humanidade, tão pequena na infinidade do cosmos.


Ficha técnica

Título original: Agora
Ano de produção: 2009
Direção: Alejandro Amenábar
Elenco: Rachel Weisz (Hipatia), Max Minghella (Davus), Oscar Isaac (Orestes), Ashraf Barhom (Ammonius), Michael Lonsdale (Theon), Rupert Evans (Synesius).



sábado, 2 de julho de 2011

Cabeças vão rolar!




Por Sérgio Siscaro

Quando Halloween (1978) deu origem ao sub-gênero dos slash movies – com litros e litros de sangue jorrando de indefesos adolescentes em franquias como Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, o próprio Halloween e tantas outras – John Carpenter nem imaginava que o que aterroriza uma geração é a piada da próxima. Foi assim que, nos anos 90, apareceu a série Pânico (Scream, 1997, de Wes Craven), que parodiava os clichês desses filmes de forma inteligente e divertida.

Agora assistimos a uma espécie de volta do gênero, só que pelo caminho dos remakes – reeditando pela enésima vez as mesmas mortes e os mesmos Jasons, Freddies e Michaels dos anos 80. Até Pânico foi meio que revisitado – ainda que aqui seja ainda uma sequência, e não uma refilmagem.

Mas antes disso, no início dos anos 00, uma dessas franquias tentou a volta por cima – e o filme resultante conseguiu misturar a proposta de Pânico com uma certa, digamos, crítica social. Halloween: A Ressurreição (Halloween: Ressurrection), de 2002, buscou fazer uma ponte entre o fraco H20 (1998) e um possível futuro para as matanças de Michael Myers na telona. E o resultado final foi hilário! Um grupo de jovens participa de um reality show cuja proposta é bem simples: eles devem passar a noite na casa do assassino. E aí, claro, as coisas acontecem...



Cabeças rolam, esqueletos caem, pessoas são empaladas, e mensagens são enviadas por SMS! Sem falar na sequência de abertura, com participação especial da heroína da série, Laurie Strode, vivida por Jamie Lee Curtis – e seu adeus (adeus?) à série. O diretor é um velho conhecido da franquia, tendo dirigido Halloween 2: O Pesadelo Continua! (Halloween 2, 1981)


Com citações a outros filmes sangue-e-tripas (preste atenção na referência ao Massacre da Serra Elétrica/Texas Chainsaw Massacre, 1973), Halloween: A Ressurreição critica impiedosamente o fascínio do público com reality shows – literalmente roubando a atenção da galera da festa a fantasia da qual participa o “namoradinho virtual” da heroína. E o elenco também está ótimo – destaques para o produtor picareta Freddy, vivido pelo rapper Busta Rhymes, e pela louquete Jen, interpretada pela tenente Starbuck de Battlestar Galactica.


Ficha técnica
Título original: Halloween: Ressurrection
Ano: 2002
Direção: Rick Rosenthal
Elenco: Jamie Lee Curtis (Laurie Strode), Brad Loree (Michael Myers), Busta Rhymes (Freddie Harris), Bianca Kajlich (Sara Moyer), Sean Patrick Thomas (Rudy), Daisy McCrackin (Donna), Katee Sackhoff (Jen), Luke Kirby (Jim), Thomas Ian Nicholas (Bill)
Duração: 1h34