
Por Sérgio Siscaro
Após um longo e tenebroso inverno, voltam as resenhas do Desligue o Celular! Dessa vez, contudo, o escolhido não é nenhum grande clássico da Sétima Arte, mas um desconhecido (pelo menos por aqui) filme sul-coreano que trata de realidades alternativas. 2009: Memórias Perdidas/ 2009: Lost Memories, lançado em 2002, trabalha com uma ideia curiosa: a de que a história teria sido rearranjada a fim de que a Coreia fosse dominada pelo Japão por todo o século XX (nem chegou a ocorrer a divisão do país). Nessa realidade, a 2ª Guerra Mundial teria começado mais cedo, tendo Japão e EUA como aliados. E as bombas atômicas teriam caído em Berlim, e não em Hiroshima e Nagasaki.
A trama é centrada nos ataques de uma organização nacionalista coreana, que luta contra o domínio nipônico na península e busca estranhos artefatos que permitiram a volta no tempo. No meio de tudo isso, um clichê básico: o policial coreano Masayuki Sakamoto, que trabalha ao lado dos japoneses e acaba enfrentando seus conterrâneos, tidos como terroristas – o que, claro, irá descambar em uma crise de lealdade, tornada mais grave pelo fato de que o melhor amigo dele é seu colega japonês Shojiro Saigo.
O filme tem vários problemas. Alguns pontos do roteiro não são explicados, enquanto outros não têm lógica. Um exemplo: os “terroristas” coreanos querem roubar um artefato arqueológico, e por isso armam uma situação de guerra em um museu de Seul, com direito a reféns, tiroteios etc. Só que poderiam ter roubado a peça na estrada – como de fato é feito mais tarde. Também não fica claro de onde a organização obtém dinheiro para custear ataques com asa-delta, nem para dispor de armamento moderníssimo.
A ideia central – a de que há algo de errado na história oficial – remonta ao clássico romance do escritor norte-americano de ficção científica Philip K. Dick. Em O Homem do Castelo Alto/ The Man in the High Castle (1962), ele conta a história dos EUA após terem sido derrotados na 2ª Guerra Mundial e divididos entre Japão e Alemanha. Também lembra o filme Nação do Medo/ Fatherland (1994), com Rutger Hauer, no qual este é um policial honesto em um Estado ditatorial – no caso, a Alemanha nazista que venceu os Aliados na guerra.
Além do conflito moral de Sakamoto, outra linha de condução da trama é a inconsistência das memórias do personagem – levando o ponto central do filme também ao nível pessoal. O tratamento é raso, mas não deixa de ser uma ideia interessante, que poderia ser melhor aproveitada.
Para quê, então, essa resenha? Ora, para mostrar que a ficção científica oriental vai muito além dos animês tecnológicos, e que a Coreia do Sul vem despontando nesse gênero.
Ficha técnica
Título Original: 2009: Lost Memories
Gênero: Ação/Ficção Científica/Mistério/Thriller
Lançamento: 2002
País de Origem: Coréia do Sul
Duração: 136 min
Direção: Si-myung Lee